Sempre fui um cara que tentou não
ter um pré-conceito sobre pessoas ou assuntos aos quais não conhecia. Sofri desse “pre-conceito” boa parte da minha adolescência.
Além de ser gay, sempre fui acima do peso e taxado de nerd pelo simples fato de usar
óculos. E vamos ser honestos. Nos anos 90 você ser gay, nerd e gordinho o “mundo”
não facilitava muito.
Mas a vida seguiu e desde então
passei a me policiar para não estabelecer conceitos antes de conhecer qualquer
assunto ou pessoa. E isso não é nada fácil, posso afirmar para vocês. O ser
humano julga muito rápido e conseguir podar isso, leva um bom tempo.
O que me remete ao mundo Drag, que sempre
foi algo muito distante pra mim. Quando em 2010, um amigo insistiu para que
assistisse uma competição parecida com America’s Next Top Model, mas na versão
Drag Queen, vivia evitando e dando um monte de desculpas. Na verdade, o que
pensava é que em uma competição entre drag queens não fosse existir nada de muito
interessante e fosse bem chata. Achei que não fosse possível torcer fervorosamente,
se envolver com as competidoras e, acima de tudo, se viciar no programa. Mas
estava – AINDA BEM – redondamente enganado.
RuPaul’s Drag Race me ajudou a
abrir ainda mais minha cabeça. Percebi o quanto estava sendo limitado ao não
querer conhecer um pouco do mundo drag. E antes que falem que um reality show
não consegue mostrar a “verdadeira realidade” do que acontece no mundo das drags,
já deixo claro que concordo com isso. Só que também acredito que o programa não seja
mais só uma competição de personagens, mas ele também ajuda a mostrar as
pessoas que estão por trás dessas personalidades de salto alto.
Nunca, até assistir ao show,
tinha parado para pensar em como era a vida de uma Drag Queen. Por exemplo,
sempre encontrava com uma que trabalhava como hostess de uma boate que às vezes frequentava. Achava engraçada e ponto. Durante todo aquele tempo nunca tive
curiosidade em saber como foi que ela começou a se montar e como se tornou a drag que é hoje.
O programa me fez ver além do que
enxergamos normalmente. Me fez questionar os tabus que elas enfrentam dentro do
próprio mundo. Shangela, por exemplo, só tinha seis meses de drag quando
foi participar do programa, em sua segunda temporada (2010), e foi visível o
olhar de reprovação das outras competidoras, além de comentários nada agradáveis. Elas
não ajudaram a novata em nada. Shangela foi a primeira eliminada daquele ano.
Mas no ciclo seguinte, voltou e mostrou o quanto tinha amadurecido em tão pouco
tempo. Ainda não estava pronta e apresentou alguns erros de iniciante, mas
foi evoluindo e posso afirmar que hoje é uma das melhores.
Mas o ponto não é só esse. RuPaul,
através de seu reality show, conseguiu chamar atenção para uma arte que muitos
até então ignoravam. Drag pra mim era só o momento de comédia que rolava dentro de uma
boate.
Recentemente vi em outro site,
Lugar de Mulher, uma publicação em que mostrava o que elas aprenderam assistindo
ao programa e percebi que muito do que estava ali também tinha servido pra mim.
Hoje sou um cara com a mente um pouco mais aberta e com uma nova visão de
mundo, graças ao RuPaul e suas Queens.
E fica uma reflexão para sua vida:
“If you can’t love yourself, how in the hell you
gonna love somebody else?”
Um comentário:
Acho que encaixa bem no post de Serginho sobre rótulos. Já namorei um cara que às vezes fazia drag, foi ótimo e dava um certo orgulho desfilar com ele quando trabalhando e ver o olhar das pessoas...
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