Uma das coisas que me chamou
bastante atenção no projeto do Barba Feita foi o seu nome. Se você fizer uma
busca no Google dessa expressão, vai encontrar diversos links que apontam a como
se fazer a barba, ter uma bem desenhada ou similares... A escolha do nome para
esse site – uma metonímia, para os que se lembram das aulas de Português –
passa exatamente a sua essência: algo masculino e bem cuidado. Que comprove que
não é necessário estar dentro do quarteto “mulher-esporte-cerveja-carros” para
ter atestado de homem com H. E que isso independe de ser hetero, homo, bi, pan,
trans, metro, über ou lumbersexual (o último grito de rotulação cunhado pelos
fashionistas muito ocupados em seus afazeres).
A barba é algo inerente ao universo
masculino. É curioso que, diferentemente da pedra, do metal, da roda e do fogo –
que o homem passou a manipular ao longo da História –, a barba é algo que
nasceu com os machos da nossa espécie (ok, algumas fêmeas também, mas isso não
vem ao caso...). Tivemos, na verdade, que aprender a apará-la ou raspá-la ao
longo dos milênios (ou mantê-la crescendo eternamente, se você tiver um Osama way of life).
Poucas coisas mexem tanto com o
dia-a-dia de um homem quanto a barba e seus derivados (bigode, costeletas,
cavanhaque e mosca). Os imberbes desejam ter (e, vamos combinar, alguém que não
tenha sequer UM fio perdido é muito difícil), os que têm a barba falhada queriam
que ela fosse regular e os que têm ela muito cerrada ou a amam e cultivam ou a
odeiam. Costumo dizer que eu DETESTO fazer barba, mas ainda assim prefiro isso
a sangrar todo mês que nem mulher (até porque minha barba demora pra crescer e
eu a faço uma vez por semana apenas, quando tem gente que faz duas vezes AO
DIA). Acho que não conheço uma pessoa que goste de fazer barba a não ser o
barbeiro, que ganha por isso e faz nos outros...
Mas foi justamente ao aderir a
essa porçãozinha de pelos tão penosa de cuidar que, de certa forma, encontrei a
minha verdadeira face. Hoje, todos estranham quando eu tiro a barba
completamente; até eu pareço não me reconhecer no espelho.
Lembro até hoje do dia em que
usei a barba como opção pela primeira vez: foi em 07 de maio de 2008. Era
aniversário de uma amiga e eu estava com uma baaaaaaita preguiça de raspar tudo
(até porque minha barba inflamava, encravava, um horror...) e resolvi tirar só
o excesso que nascia um pouco no pescoço e deixar o restante. Aí mantive mais
uma, duas semanas... o companheiro gostou, a mãe e a irmã estranharam, o pai
nada falou, a chefe adorou (“deixa você muito mais sênior, aprovei”), o dono da
empresa zombou (“de barbinha, hein, meu filho... de barbinha!”), a tia
criticou, os amigos acharam graça... E acabei por adotar em definitivo. O que
me deu IMENSA qualidade de vida (porque os tais percalços na pele devido à
raspagem já não ocorriam mais) e, perceptivelmente, me deu um ar de mais, por
que não, masculinidade e maturidade diante dos outros.
Eu realmente posso dividir a
minha relação com clientes, colegas de trabalho e até mesmo em casa em antes e
depois da barba. Lembro que cheguei a passar por constrangimentos por conta da
minha baby face até mesmo na
profissão. Uma delas, quando comecei no meu primeiro estágio, no jornal O
Fluminense, e o então chefe de reportagem (meu amigo Eduardo Garnier) perguntou
pra todo mundo ouvir: “A sua mãe sabe que você está aqui?”. A gargalhada foi
geral e mesmo hoje, mais de 10 anos depois, há quem lembre desse momento. Outra
foi quando, já na TV Globo, fui entrevistar a então candidata a governadora do
Rio, Denise Frossard, e ela me perguntou se a emissora tinha autorização do
Juizado de Menores para me contratar...
Fato é que barba está na moda.
Muitos dizem que foi um movimento pós-Los Hermanos (no meu caso certamente
não, porque eu não sou nem um pouco fã deles) que se multiplicou entre os
jovens de nossa geração, como a tatuagem ou a whey protein. Para outros, trata-se de um resgate de uma moda do
passado, porém repaginada, após um período em que o homem de corpo quase que
inteiramente sem pelos foi alçado ao status de símbolo sexual.
Pra mim, foi preguiça mesmo...
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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Um comentário:
Bigode e o cavanhaque tb são boas opções (parece que o Silas descobriu isso ontem!)
Ab
Rubem
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