Quintas-feiras são complicadas. Se as segundas-feiras começam com a perspectiva que, dessa vez, tudo vai se consertar e dar certo, nas quintas a realidade dá as caras e puxa para dentro do poço fundo tudo o que restou de felicidade - e o que havia restado era tão pouco que parecia uma grande covardia levá-la. Secar o que já estava com sede.
Às quintas-feiras percebo que o problema são as expectativas – porque as malditas segundas-feiras, traiçoeiras segundas, se mostram como a solução de tudo. Nelas começamos regimes, a escola, o trabalho. Sob o manto do recomeço, nos iludimos que dessa vez tudo irá dar certo. Tudo irá funcionar. Dessa vez não vamos cometer os mesmos erros.
Mas chega a quinta e percebo que tudo foi em vão. Não as expectativas – não, elas não tem culpa. A culpa é minha por tê-las criado. Nutrido. Passado a mão na cabeça dizendo para ir dormir que tudo daria certo. Eu as nutri com um alimento artificial que as deixaram mais fortes - mesmo sabendo que era um alimento temporário. Mesmo sabendo que não teria ele por mais tempo do que elas necessitariam para viver.
Às quintas, então, esfomeadas, as expectativas me acordam. Chorosas. Impacientes. Cobrando tudo o que eu havia prometido. Como não encontram o que querem – afinal nada havia mais - , passam a se alimentar de minha carne. Não, elas não precisam disso. Mas comem minha carne para me punir por tê-las alimentado em vão. Já que vão morrer, levariam-me junto.
Todas as quintas eu digo, junto ao que restou de mim, que eu não criarei mais expectativas. Que viverei a esmo como uma pessoa saudável faz. Deixarei de ser um pouco eu na próxima semana. Mas, junto ao álcool consumido no fim de semana, a carne tímida vai se recompor. Dentro dela, esquecida, sobrará uma expectativa que tivera preguiça de se rebelar e ficara alheia ao que se passou.
Segunda feira, com a carne refeita, eu acordarei a pequena expectativa. Ela, e sua pequena memória, não lembrarão do que se passou anteriormente. E acreditará piamente no que eu vou prometer. Sim, porque minha memória também é curta, e apesar de saber que próxima quinta eu não estarei bem, vou insistindo nessa farsa. A expectativa se reproduzirá e se multiplicará e em pouco tempo eu me verei cheio de expectativas, novamente.
Eu, minhas expectativas e quinta-feira – um interessante caso de coisas que nunca vão dar certo, mas sempre vão estar juntas...
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Gael Rodrigues é o GhostWriter de si mesmo. Paraibano de 29 anos, adora dias nublados e fica feliz quando a chuva bate na janela. É pai de um gato chamado Judas e mãe do livro Apaixonados Anônimos. Entre roteiros e livros que escreve, arranja tempo para pensar na vida e como ela é bela sendo estranha. Muito estranha.
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Um comentário:
Nunca pensei assim, pelo menos não as quintas. Sou mais imediatista, costumo ter esse bate papo a noite com meu travesseiro, sabe aqueles minutos que seu corpo começa a relaxar e sua mente divaga para lugar nenhum? É nesse momento que revejo meu dia, no meio dessa neblina fico brava comigo por ter feito algo ou não, e durmo com a promessa de que ao acordar será diferente!!! Rs Ahm, mas a expectativa está lá o tempo todo!!!
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