Na última terça-feira, vi uma das cenas mais lindas da TV nos últimos tempos. Paolla Oliveira se
despe entre cortinas de voil que balançavam ao vento e para numa varanda ensolarada, de
costas, salto alto e uma calcinha preta que lhe revelava um lindíssimo bumbum. As lentes de
Fernando Meirelles brilharam nessa sequência.
Paolla interpreta uma prostituta bissexual na minissérie Felizes Para Sempre?. E me veio novamente à
cabeça algo que comentei há pouco tempo: de onde têm surgido tantas lésbicas? Não sou
inocente ao ponto de pensar que isso é modinha, claro que não. Assim como gays homens tem
tido liberdade maior para se expor, vejo que as mulheres também resolveram dar as caras.
Há, no meu ponto de vista, uma dificuldade em nomeá-las. Lésbica é um tanto constrangedor,
parece uma ofensa! A palavra soa pesada. Sapatão, Fanchona, Virago, são termos tão
pejorativos que parecem xingamentos e não denominações. E por que falo que elas surgem
aos borbotões nos últimos tempos? Porque nunca tive tantas amigas lésbicas como agora. E
afirmo que tive certa dificuldade em me ambientar. Pisei em ovos muitas vezes nos encontros
onde havia casais de mulheres. Não gosto de parecer preconceituoso e, por causa disso, me
sentia um bobo alegre tentando agir naturalmente. Já acabou, estou naturalmente
ambientado e, por mais que elas me permitam chamá-las de sapatão, eu ainda fico com
receio.
Os gays homens foram caricatos na TV, cinema e programas humorísticos até pouco tempo,
quando jovens galãs de novela apareceram como pessoas normais, e então a sociedade
percebeu que não havia purpurina jorrando dos poros gays. José Mayer talvez seja o homem
que mais deu credibilidade ao homossexual masculino. O problema do personagem ser casado
e manter vida dupla talvez seja, aos olhos gays, uma afronta, aí teríamos que perguntar o que o grande público acha disso. Assunto para um próximo texto.
Toquei nesse ponto, da visibilidade gay nos meios de comunicação, justamente para
exemplificar a lésbica da moda. O que há em comum entre Giovana Antonelli, Taina Muller,
Paola Oliveira, Alinne Moraes, Paula Burlamaqui e algumas outras atrizes que viveram personagens gays
na TV? Todas, sem exceção, são lindas. Então criou-se o estereótipo de que lésbicas são lindas.
Isso aguça o desejo do homem hetero que acredita não existir mulher gay, elas apenas não
encontraram o homem certo. E já ouvi isso muitas vezes, em comentários bem jocosos, que
não cabem aqui.
Essa glamourização da mulher gay, linda e bem sucedida, segue caminho oposto ao viado, bicha,
mariquinha, boiola, que tanto se mostrou na TV. A dona de casa olha duas mulheres se
relacionando amorosamente na novela, enquanto passa a camisa do marido para trabalhar no
dia seguinte, e acredita que essa experiência é menos traumática e mais fácil de se lidar do que
o filho bichinha que dança Britney Spears no quarto. A mulher camufla sua sexualidade na
maioria das vezes, mas o menino não consegue disfarçar os trejeitos afeminados, quando os
tem.
A vida de uma gay é tão dolorosa e árdua quanto a do menino que se descobre homossexual.
Talvez até pior, porque muitas casam, tem filhos e passam uma vida inteira presas num desejo
reprimido. Falta mostrar ao grande público que uma lésbica não precisa ser linda, como os
exemplos acima, para ser aceita. Onde estão às chamadas caminhoneiras, ou mesmo as mais
masculinizadas. Será que o único exemplo será sempre Tammy Miranda? Desculpem os que a
admiram, mas a enxergo como a mãe, louca para aparecer. Não me desce goela abaixo as
transformações masculinas de Tammy, por isso não acredito ser ela um exemplo. Falta mais
verdade na lésbica da mídia.
A TV deu um salto enorme na ultima década em relação à sexualidade. Autores estão mais
ousados e criativos na maneira de burlar a censura e esfregar na cara da sociedade que as
diversas formas do ser humano são válidas e normais. Será que a próxima etapa é provar que
os tais g0ys, highsexuais e afins são na verdade uma farsa? Vamos ver quem terá coragem de
desmascará-los.
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2 comentários:
É um assunto bem interessante. A questão da lésbica carrega mais de um preconceito: a homofobia somada ao machismo. Existe muito uma imagem de que ser lésbica é um prática sexy e como fetiche, o que é um pensamento machista. O homem hetero tem a fantasia das duas mulheres, mas desde que ele esteja no quarto. O fato delas estarem em um quarto separado sem ele, quebra tudo. A TV vem tratando de formas diferentes a figura do gay, o que é muito importante. A figura da lésbica tem que vencer mais barreiras ainda, mas um dia chegamos lá...
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