Alguns dizem que o silêncio da
noite é a porta de criatividade para os escritores. Eu já digo que isso se
chama insônia. Bem, hoje encaro como insônia, mas quando era mais novo sentia
que a madrugada era minha motivação. Durante a noite sentia vontade de fazer
todas as atividades obrigatórias do dia. Queria estudar, malhar, escrever, ler,
basicamente, fazer tudo o que enrolava para executar durante boa parte do meu dia.
Quando era mais novo, a noite me
fascinava. Conforme as horas avançavam e o sono não chegava, parecia que era o
único ser acordado no meu prédio. Que a luz do meu quarto era a única da rua.
Do meu bairro. Ficar acordado, enquanto o mundo aparenta dormir, é sedutor. Acho
que vem daí o gosto pelo proibido, das histórias que nascem durante a noite e
ganham forma madrugada adentro. E que, ao chegar em nossos ouvidos, geram certa
dúvida. Afinal, será mesmo que isso aconteceu? Quem nunca duvidou sobre um “causo”
de um amigo? Ou quem nunca acreditou por se tratar de algo que rolou durante as
altas horas da noite... E algo assim, tão inusitado, só poderia ser real, não é
mesmo?
Mas a verdade é que a noite, por
suas formas misteriosas, vicia. Ficamos cada vez mais dependentes de seus
mistérios e, quanto mais vivemos acordados enquanto todos dormem, acabamos por dormir
enquanto todos vivem. É poético, mas não muito prático de se lidar no dia a
dia. E nem coloco em cheque questões mais
práticas como ir ao banco pagar uma conta, hoje podemos fazer isso com nosso
telefone e em poucos cliques. Mas penso em coisas simples, como colocar em dia
um papo entre amigos. Apesar de acolhedora, nem todos são adeptos da madrugada; de perder o sono, enquanto todos os outros estão aproveitando para colocar em
ordem o próprio cansaço. Então, como fazer para colocar o papo em dia? Como saber
os últimos acontecimentos da vida das outras pessoas?
Ao mesmo tempo que é possível
sentir uma total liberdade na madrugada, também somos limitados por ela. A noite gera solitários. Alguns sem intenção, que estão em
busca de companhia e usam chats, salas de bate-papo (ainda existem?) e
aplicativos para limarem essa solidão; e outros tantos, que se rendem e tornam-se solitários convictos. Pessoas que não ligam por estarem sozinhos e fazem disso até um
beneficio próprio. Já que não é preciso argumentar para assistir determinado
filme e nem se preocupar com o julgamento alheio ao chorar com determinada
série maratonada durante a acolhedora madrugada.
Fiz esse texto como uma forma de
reflexão sobre o tempo que costumo ter pra mim durante as altas horas da noite.
E no fim, sinto que acabou sendo quase uma declaração de amor, já que com todos os poréns que costuma ter, a madrugada ainda apresenta suas infinitas possibilidades.
E se você ainda não se permitiu viver um caso com o silêncio libertador da noite, experimente. Garanto que mudará sua vida pra sempre.
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Silvestre Mendes, o nosso colunista de quinta-feira no Barba Feita, é carioca e formado em Gestão de Produção em Rádio e TV, além de ser, assumidamente, um ex-romântico. Ou, simplesmente, um novo consciente de que um lance é um lance e de que romance é romance.
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