Oi, 30 anos. Faz quase um ano que
eu estou com você. E sabe aquele lance da crise que diziam que a gente teria
junto? Passou longe! Eu não tive vergonha em nenhum momento de dizer que eu
tinha você. Nem mesmo fazer piadinhas de que a idade estava pesando. De fato,
ser um pouco velho sempre fez parte da minha personalidade; logo, me tornar mais
maduro na carteira de identidade nunca foi um problema.
É bem verdade que uma série de
coisas fez com que sua chegada em minha vida não se tornasse uma experiência
traumática: eu já tinha um relacionamento estável, feliz, correspondido e de
muita compreensão de quase dez anos; tinha uma família linda, que cresceu com a
chegada de uma sobrinha mais linda ainda, que sempre me apoiou e demonstrou
amor em todos os seus gestos; tinha uma carreira consolidada, estando uma ótima
posição profissional, na mesma empresa havia quase sete anos, tendo experiências
anteriores que me realizaram bastante também; tinha um livro lançado de minha
autoria e um em conjunto com outros autores – e como já tinha plantado uma
árvore, agora só falta o filho; tinha minha casa que, ainda que não própria na
escritura, era o meu lar, o qual eu tenho o orgulho de manter junto ao meu
companheiro; tinha uma experiência religiosa muito recompensadora, feliz e
equilibrada; tinha amigos queridos por toda a parte, os quais mesmo sem muito
contato, às vezes, sempre pude contar nos momentos de mais aperto ou aflição.
Soma-se a isso que, desde que
você chegou, muitas experiências ótimas aconteceram na minha vida. Presenciei
uma Copa do Mundo no quintal de casa, podendo ver a final ao vivo no Maracanã
(sempre foi um sonho meu); ganhei uma filhota canina que é um dos meus maiores
amores hoje em dia; finalizei o meu segundo livro solo; completei dez anos de
relacionamento e fiz viagens incríveis e agradabilíssimas. Ganhei novos amigos,
daquelas pessoas que você, às vezes, até tenta entender como não tinha conhecido
antes! Tornei-me dirigente dentro da minha instituição religiosa e aumentei
minha responsabilidade sobre a fé dos outros. Descobri o prazer de correr na
rua, participando de provas mesmo num domingo chuvoso às 8h da manhã. Passei a
escrever no Barba Feita e, através dele, soube mais sobre o Leandro, que já era
meu amigo, mas também conheci o Glauco, o Silvestre, o Serginho e o Esdras.
Sabe, 30 anos, tentaram
explicar científica e astrologicamente que você não seria um bom momento na
minha vida. Falaram de um tal retorno de Saturno, que leva 29 anos para dar uma
volta completa no Sol e que traria desestabilidade perto dos 30. Mas Saturno
nem fez cosquinha. Nem uma possível desaceleração do metabolismo e outros
blablablás de que o meu corpo nunca mais seria o mesmo. Estamos nessa vida pra
isso mesmo: pra sermos outros, diferente do que éramos, e não voltarmos atrás.
Estou cheio de planos. Cheio
mesmo. Tenho pelo menos mais cinco livros em mente. Quero filho(s). Quero mais
viagens, com roteiros incríveis. Quero uma vida com mais qualidade. Quero
correr mais quilômetros do que já corro. Quero muitas outras coisas que não
cabem nessas linhas.
Semana que vem me despeço de
você, 30 anos. Na verdade, você estará lá, acompanhado de outros números. Mas
não será mais você, puro e simples. Cravado e redondo.
Obrigado por ter sido gentil e
amável. Você vai deixar saudades.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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