Nunca gostei de futebol, nem de
jogar, nem tampouco ver. Quer dizer, houve uma época que eu até assistia aos
jogos do Brasil, uma época em que os jogadores estavam realmente interessados em
defender as cores do país e não seus bolsos. Com o passar do tempo, os jogos me
entediaram, a seleção deixou de fazer aquele futebol arte que nem sempre
ganhava, mas era bonito de ver, vide a Copa de 1982, por exemplo. Hoje, mesmo
que ganhe, é apenas mais uma seleção em campo, aquele Brasil que encantava o
mundo inteiro não existe mais. Não somos mais o país do futebol.
Se por um lado isso me agrada, porque
sempre odiei este rótulo bobo, por outro pode descaracterizar um país que transformou
o futebol em sua identidade. E como o Brasil é um país que demora a aprender
com os erros, pode demorar anos a entender que somos mais que isso. Entretanto, a
era globalizada pode forçar essa mudança mais drasticamente. Durante anos
cresci ouvindo o povo a lamentar-se por ter perdido o campeonato mundial de
1950 para o Uruguai. Parecia que o futebol precisava de alguma forma de expiar
esse pecado por ter pedido aquele jogo. Quanta bobagem! Há um ano perdemos da
Alemanha num placar muito mais vexatório. Barbosa, o goleiro da partida de 1950,
deve estar rindo até hoje. E sentindo-se vingado, talvez.
O fato é que o Brasil não sabe perder e sempre buscou ídolos e
necessita deles a todo custo. Não importa aonde seja, sofremos dessa síndrome de
coitadinhos-terceiro-mundista que precisa ganhar nem que seja roubando. Lembro
que nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, a seleção de futebol ficou em terceiro
lugar e voltou ao país escondendo a medalha de bronze porque tinha vergonha,
nem sequer participou da cerimônia de entrega junto com as outras nações. Uma
vergonha muito maior, parecia querer dizer que não aceitavam o terceiro lugar
porque era muito pouco para a seleção canarinha. Hortência, que ganhara a
medalha de prata na mesma olimpíada, estava radiante, imensamente feliz com sua
conquista e de suas colegas no basquete e dissera: “é uma medalha olímpica”.
Sim, Hortência, se participar de uma olimpíada já é uma honra, imagine então ganhar
uma medalha olímpica.
Viram a diferença? Perder ou
ganhar faz parte, ela perdera o último jogo, não ganhara a medalha de ouro, mas
havia conquistado uma medalha, não importara a colocação. Para tantos atletas
ir a um campeonato mundial, participar de uma olimpíada é uma vitória. Quantos
ficam pelo caminho? Para nós, ou melhor, muitos de nós, apenas vencer importa
porque somos coitadinhos, nada mais nos resta.
Os Estados Unidos são um país que
buscam a vitória a todo custo, porém, se perdem, transformam a derrota num
momento de repensar e trazer de volta a glória e não ficam “chorando o leite
derramado”. Se fosse assim, não teriam se transformado na potência que são hoje.
A Alemanha perdera o campeonato em 2006, mas deu a volta por cima. O resultado de 7x1 contra uma seleção que prometia muito e nunca ofereceu nada, até foi pouco, mas é um bom exemplo do que a eficiência é capaz. Não digo que o
brasil não será capaz de dar a volta por cima no esporte, mas a Alemanha construiu
grandes jogadores e nós, o que temos?
Ao contrário do Brasil, eles criam
as oportunidades para que as vitórias sejam alcançadas, vencer contando apenas
com a garra, por mais lindo que seja, não paga as contas de nossos atletas nos
demais esportes. Estes mesmos atletas estão lá a defender o país e não estão
sendo reconhecidos por isso, por outro lado os futebolistas estão enchendo os
bolsos e se lixando para o país! Essa mesma seleção foi perdendo o brilho, foi
se tornando não mais uma seleção e sim uma empresa com fins lucrativos. E quem
quer torcer por isso?
Ganhar e perder faz parte de qualquer competição. Faz parte da vida. Outro exemplo, a Alemanha perdeu
duas grandes guerras, saíra devastada, mas se reerguera. Eles possuem sim, vergonha pelo mal que causaram ao mundo, mas também não estão a chorar pelos
cantos e sim a relembrar o erro para não cometer mais. Um ano depois da derrota do Brasil
para a Alemanha, vejo as tevês a relembrar isso. A Alemanha continua lá, se está
a vencer ou perder, ela continua lá.
E nós para onde vamos?
E nós para onde vamos?
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Serginho Tavares é um apreciador de cinema (para ele um lugar mágico e sagrado), da TV e da literatura. Adora escrever e é o colunista oficial do Barba Feita às sextas. É de Recife, é do mar: mesmo que não vá com tanta frequência até a praia e mantenha sempre os pés bem firmes na terra.
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