O que mais gosto do Masterchef
Brasil é poder torcer por alguém e saber que minha torcida, de nenhuma maneira,
interferirá no programa. Assistirei e comentarei nas redes sociais e só. Minha
torcida e meu nariz torto por alguém não afetarão as eliminações que vão
acontecendo no meio do caminho. Dito isso, tenho total liberdade para torcer por
uns e não gostar em nada de outros.
Na primeira temporada do reality
show da Band, por exemplo, só tinha torcidas. Tive um participante aqui e outro
ali com quem não simpatizei, mas no todo só tive favoritos e meu coração partido
com as inevitáveis eliminações. Mas o final da primeira temporada foi épico. Um
momento, melhor dizendo, o grande momento que fez o programa de cozinheiros
amadores ter um espaço cativo no coração de todos os espectadores.
O segundo ano, assim como
acontece com toda série e programas do gênero, veio com o desafio de manter
nosso interesse. Os participantes, em teoria, seriam mais bem preparados e com
uma bagagem culinária maior que os primeiros aventureiros. A Band nos vendeu
isso; os jurados disseram incessantemente que seria assim durante as primeiras chamadas do programa. E, no
fim das contas, não foi isso que vimos. Mas dentre os novos participantes, um
chamou atenção logo de cara: Fernando. Focado, o rapaz foi certeiro desde o
primeiro momento. Recebeu elogios e sorriu confiante. Lembro de não ter caído
de amores, mas não odiado. Seria alguém, finalmente, bem preparado para a
corrida que é o Masterchef e poderia, no decorrer dos episódios, me conquistar
e receber toda minha torcida. Afinal, ele é muito bom.
Só que existe um grande problema
com a humanidade. Quando sabemos que somos bons em algo, deixamos que essa
certeza, esse fato, nos guie. Mas sempre existe um belo risco no meio desse
caminho: se achar acima do bem e do mal. Por receber elogios e estudar pratos
complexos e complicados em seu preparo, Fernando sempre se garantia. Seja na
postura correta, seja na finalização dos pratos ou em sua apresentação. Ele,
sozinho, sempre foi impecável. Mas mesmo bem preparado, focado e estudado, estando
em grupo o moço fracassou inúmeras vezes. Não soube ser líder, não soube ser cozinheiro.
Fernando soube ser maior do que realmente era no momento. Ou do que deveria ser:
um simples competidor amador.
Lembro bem de um dos divisores de
água do programa: o arroz queimado de Iranete. Lembro também que foi o próprio
participante, que não era líder e que por sua vez deveria focar em seus
afazeres, que convenceu seus companheiros de grupo que o preparo do arroz estava
equivocado. Foi ele quem conduziu todo seu grupo ao primeiro grande desastre do
programa. E mesmo assim não foi responsabilizado. Mas foi a partir dali, com o desdém
apresentado e reapresentado semana após semana, que me vi tendo antipatia por
aquele cara talentoso. Sim, não podemos esquecer que o Masterchef, além de ser
um reality show, é um programa que procura um talento culinário que possa vir a
tornar-se um grande chef de cozinha. E, com toda certeza, Fernando mostrou ter
esse tipo de talento ao longo do programa. Mais uma vez ressalto o estudo que
ele se dedica para com a profissão, seu olhar técnico e todo seu talento na
elaboração de seus pratos. Mas faltou algo muito importante. Faltou amor. Não
pela possível nova profissão ou pela comida, mas amor pelo que o jogo
representa. Se você se encontra no meio de outras 17 pessoas que possuem o
mesmo sonho que o seu, mas não têm um preparo para isso, o que você faz? Se
mantém no patamar de vencedor e sai como um trator por cima dos outros ou tenta
se superar desafio após desafio?
Sei que existe uma única resposta lógica para essa minha pergunta. Sei também que só uma é o tipo de resposta que esperamos ouvir de alguém. Esperamos humildade. Esperamos boa vontade. Esperamos alguém disposto a ajudar. Somos assim. Esperamos o melhor dos outros, mesmo que muitas vezes não exercitemos o nosso melhor lado. Exigimos sempre. Toda vez. E isso piora quando é mostrado em um programa de tevê. Ficção ou não, queremos a boa ação da noite em nossos lares.
Sei que existe uma única resposta lógica para essa minha pergunta. Sei também que só uma é o tipo de resposta que esperamos ouvir de alguém. Esperamos humildade. Esperamos boa vontade. Esperamos alguém disposto a ajudar. Somos assim. Esperamos o melhor dos outros, mesmo que muitas vezes não exercitemos o nosso melhor lado. Exigimos sempre. Toda vez. E isso piora quando é mostrado em um programa de tevê. Ficção ou não, queremos a boa ação da noite em nossos lares.
Só que quando você ouve por muito
tempo que é bom em algo, nada mais importa. E assim como eu me reconheço como
alguém com puro talento, espero que todas as outras pessoas também o façam e
fim. Mas em toda boa história existem percursos e surpresas no caminho. No
Masterchef não poderia ser diferente. Existia no meio de todos aqueles competidores,
um que poderia eliminar o temido Fernando. E essa pessoa era o próprio
Fernando. A total certeza que ele possuía e bradava aos quatro cantos em todas
as entrevistas (editadas, eu sei, mas que mesmo assim possuíam um discurso
muito bem claro e repetitivo ao extremo) de que ele era bom e tinha certeza de
suas atitudes, também exaltava o despreparo do mesmo em competir. Não, não
queria que Fernando tivesse uma postura menos agressiva e fosse “fofo” ao falar
sobre os outros participantes. Só gostaria que ele fosse menos pedante. Que ele
se visse como alguém que precisa traçar sua caminhada rumo à cozinha de um
grande restaurante. Só que ele já se via como um grande chef de nome e reconhecimento.
Mas ele não é.
O que pretendia fazer com esse
texto? Mostrar tanto para vocês quanto pra mim, que ter talento, foco e
dedicação é algo muito importante. Isso ajuda e muito. É a construção do sonho
que temos e ser assim, dedicado e apaixonado, ajuda muito. O problema está em
acreditar que ser assim te faz mais merecedor que os outros. Deixar que a total
confiança em seu sucesso te dará o prêmio no final. Muitas vezes a jornada é o
próprio prêmio em si. Você é bom. Você é muito bom, mas isso não te faz
vencedor. Isso só te faz ser admirado, até invejado, mas não te faz o
verdadeiro campeão no fim do dia.
Moral da história? Seja sempre a
sua melhor versão e respeite a jornada dos que estão ao seu lado. Talvez, só
talvez, eles possam ensinar exatamente aquilo que falta em você. E assim você
não precise se esforçar tanto para se sentir melhor que eles.
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Silvestre Mendes, o nosso colunista de quinta-feira no Barba Feita, é carioca e formado em Gestão de Produção em Rádio e TV, além de ser, assumidamente, um ex-romântico. Ou, simplesmente, um novo consciente de que um lance é um lance e de que romance é romance.
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2 comentários:
Adorei a reflexão, Sil! Ótimo texto! ;)
Prático e direto! Muito bom texto. Parabéns!
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