Lembro exatamente quando ouvi essa
frase pela primeira vez. O que não lembro muito claramente foi como o papo
começou e foi parar exatamente naquele assunto. Mas foi essa frase que me fez
gelar por inteiro, por uns dois milissegundos no máximo, mas que senti como se
tivesse levado toda uma eternidade.
Imagine você. Estava indo rumo à Recife (foi nessa mesma viagem que conheci o Serginho, colunista das sextas-feiras aqui
do Barba, e fui brindado com todo seu sorriso, bom humor, que diga-se de
passagem é sua marca registrada, e, claro, toda sua receptividade) e, sentado ao meu
lado naquele mesmo vôo, o dono da frase que havia me paralisado, Leandro Faria.
Sim, o dono deste espaço e dos textos de toda segunda-feira. E não, antes que
você pense alguma besteira, ele não estava dizendo essa frase pra mim por termos
algum tipo de envolvimento romântico, sexual ou algo do tipo. Na verdade, a
conversa toda girava ao redor de um amigo do Leco que eu ficava na época.
Melhor dizendo, que fiquei umas duas ou três vezes. Mas o que importa foi o
efeito que “você é pra casar” provocou em mim.
Sei que o que foi dito era para
ser um elogio, mas naquele momento, naquele segundo, foi uma das maiores ofensas
que ouvi na vida. Sim, sério. Tudo o que queria era ser pegável, não pra casar.
Casar? Quem tava pensando em casamento naquele momento? Tá. vamos voltar mais
um pouco no tempo para explicar algumas coisinhas pra vocês. Todo esse episódio
aconteceu em 2010. Naquela época eu tinha 23 anos e tinha acabado de passar por
uma das maiores transformações da minha vida, depois de ter perdido mais de 25 quilos
(que já encontrei de novo ao longo dos anos). Só que mesmo assim, fisicamente
diferente, ao me olhar no espelho via mais defeitos do que qualidades. Mais
gordura que magreza e mais imperfeições acima de qualquer outra coisa.
Não quero soar como um EMO (esse
termo ainda existe?) ou qualquer outro adjetivo que usam nos dias de hoje para
designar pessoas sentimentais ao extremo e tristes. Mas o fato é que eu gostava
de ficar com esse menino em questão e ele usou como desculpa para não querer
continuar com essas ficadas, algo positivo. Ser pra casar é positivo, não é? Eu
era pra casar e não ficar se pegando por aí. Só que esse ~não é pra ficar
pegando por aí~ era exatamente o que queria naquele momento da minha vida.
Aproveito para admitir também que
o título inicial desse texto era: “Você é pra casar e não pra ficar pegando por
aí”, mas por algum orgulho bobo que ainda restou em mim, preferi não acrescentar.
Não estou escrevendo isso para que sintam pena de mim, a ideia é completamente
oposta. Então é hora de continuar essa jornada.
Ainda no avião e naquele espaço
de tempo entre ouvir o que é dito, raciocinar e falar alguma coisa que
rebatesse aquela firmação, acho que ainda consigo explicar (mesmo tendo passado
cinco anos) exatamente como meu cérebro e corpo reagiram. Eu olhei para o lado
oposto de onde Leandro estava sentado, refleti brevemente e bufei. Isso, eu
bufei! Tudo o que não queria ouvir naquele momento é que eu era pra casar. Tá.
Assumo que lá no fundo até queria, mas o contexto teria que ser totalmente
diferente. Só que naquela etapa da minha vida, meu
objetivo número um era procurar ser desejado e que aquelas ficadas esporádicas
continuassem. Só isso. Não digo que era continuar para evoluir em algo mais sério. Era
continuar. Continuar se pegando e ponto. Mas, SPOILER: Não continuou!
Refletindo sobre isso agora, acho
que esse "pra casar" foi quase como um pé na bunda alternativo, já que não
tínhamos nada de concreto. E talvez, lá no fundo, eu sabia disso.
O fato é que a viagem pra Recife
foi magnífica (alguma coisa tinha que ser, não é mesmo?) e Leandro e eu vivemos
várias aventuras por aquelas terras. Mais ele do que eu, não vou mentir. Mas a frase
dita naquele vôo que saiu do aeroporto Santos Dumont, ficou martelando em meus
ouvidos. E se você acha que passou com o tempo, está muito enganado, ela
continuou em meus pensamentos. Até a madrugada de hoje, quarta-feira,
02/09/2015 – 01:50 da manhã. Exato
momento em que escrevo esse texto e tento exorcizar o que quer que seja que
tenha permanecido daquele dia dentro de mim.
Após o retorno ao Rio de Janeiro,
conheci outros caras, algo muito natural, afinal, como disse lá em cima, estava
no clima de curtir o momento e só isso. Mas ouvi outro dia outra coisa, que não
foi direcionada pra mim, mas que fez tudo isso voltar. Um amigo me falou: “Estou
querendo casar”. Então passei a pensar sobre casamento. Recentemente fui a um de
uma amiga. Minha primeira celebração entre a união de duas mulheres. Ou, como
quero muito dizer para a Família Tradicional Brasileira: O CASAMENTO ENTRE DUAS
MULHERES. E foi lindo. Me segurei muito para não chorar. Senti um orgulho no
peito por testemunhar aquilo ali e também uma baita gratidão por ter sido
convidado para estar ali, fazer parte daquele momento tão especial e que desejo
que seja tão eterna e épica como elas merecem.
E ali no meio da festa, durante
uma música da Anitta e outra da Ludmilla, aquele papo no avião voltou. E pela
primeira vez comecei a me questionar se sou mesmo para casar. Porque eu sei
muito bem quem eu sou como Silvestre. Como um cara sozinho, em unidade. Não sei
nem como sou como namorado. Sei como gostaria de ser, minha visão utópica de
mim mesmo. Só que sabemos que na prática as coisas são diferentes. Somos
diferentes quando estamos com outra pessoa.
Meu último “relacionamento”, por
exemplo – uso aspas porque não foi namoro. Não
oficializamos nada. Mas fomos ficando e a coisa foi rolando. – tava tudo
bacana, tudo legal, mas ele queria ir ficando e eu, pela primeira vez me vi
fazendo planos… Ou querendo fazer planos. Tudo bem que a nossa história tinha
um passado e esqueletos no armário que não estou disposto a mexer hoje nesse
texto. Mas posso dizer que ele estava me conhecendo pela primeira vez e eu
estava tendo a minha chance de conhecê-lo. Tá, sobre essa história é só
necessário você saber que já tínhamos ficado uns anos atrás (muitos anos atrás) e, do nada, acabou, e mais uma vez não por vontade minha (começo a pensar que
deveria ter feito a Taylor Swift e ido compor músicas com os pés na bunda que
coleciono). Mas tudo acabou e eu fiquei com a minha idealização. Toda vez que
gostava de alguém que não retribuía de volta, pensava nesse carinha. Pensava se
as coisas teriam sido diferentes lá atrás se tivesse acontecido algo. Acho até
que pensei nele naquela conversa de avião rumo ao Recife. Só que ele voltou,
depois de muito tempo, e as coisas foram caminhando. Só que o Silvestre que eu era
na época em que nos envolvemos evoluiu. Não quero dizer que não existe mais,
afinal, eu continuo aqui e lembro bem como me comportava, os sonhos que
alimentava e o tipo de fantasias que possuía. Só que o tempo fez toda diferença
entre a expectativa e realidade.
Eu me vi ali, ficando com o cara
que queria ter ficando e era isso o que tinha no momento. Eu sabia que ele
gostava de mim, mas nada além disso. Gostava e ponto. E eu, naquele momento,
precisava de mais. Não, não queria casar, mas eu queria poder fazer planos e
não me preocupar com as notificações do aplicativo de pegação que continuavam a
apitar no celular dele. Como disse, não quero mexer muito nesse assunto por
aqui hoje. Só queria ressaltar que apesar do meu desejo de me conhecer com
outra pessoa, o pouco que vislumbrei disso, não gostei. Até hoje me culpo por
não ter levantado da mesa do bar onde estávamos após ouvir que ele não iria
sair do aplicativo de pegação e muito menos iria deletá-lo do celular. E antes que você pense que estava fazendo papel de louco e exigindo coisas, semanas antes ele fez o mesmo comigo e o trouxa aqui acabou por deletar o perfil e tirar a existência dos aplicativos no meu celular.
Sim, eu sei, mereço um momento de silêncio. Mas depois de descobrir que a interação dele continuava... bombante por aí, preferi reunir toda minha coragem e questionar sobre o tal aplicativo. O que nos leva até a mesa de bar, a negativa dele e meu
impulso inicial de levantar e seguir o caminho da minha casa. Mas eu ali
fiquei. De cara amarrada, pensando no otário que estava sendo, mas continuei.
Eu gostava dele, mas queria gostar mais de mim também. Ficamos mais um tempo
depois desse fato, mas eventualmente paramos de ficar. Nada foi dito, apenas
paramos.
Estou sozinho desde então e tenho
usado esse tempo para questionar quem eu sou. Passei a me olhar sem tanto medo. Já tinha feito o que mais temia na vida: papel de trouxa. Depois disso, passei a analisar meus sentimentos sem vergonha de possuir nenhum deles. Assumo o que me
dá tesão, tenho medo do que não consigo compreender e, acima de tudo, percebo o
quanto me deixei esconder por todos esses anos. Poderia ter ido morar em São
Paulo, mas fiquei aqui onde era mais confortável pra mim. Onde todos me
conheciam e onde conhecia todo mundo. Acho que no fundo não fui por medo de
descobrir quem eu era longe disso tudo, de toda minha segurança e de tudo o que
conheço ao meu redor.
Até hoje não consigo compreender
o que é ser alguém pra casar. E não tenho como saber se sou essa pessoa ainda. Alguém
que irá de fato se casar um dia. Mas, no momento, me permito não saber.
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Silvestre Mendes, o nosso colunista de quinta-feira no Barba Feita, é carioca e formado em Gestão de Produção em Rádio e TV, além de ser, assumidamente, um ex-romântico. Ou, simplesmente, um novo consciente de que um lance é um lance e de que romance é romance.
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