
Oi, Fernanda! Eu sei que a gente não acredita nessas coisas, mas aqui quem fala é sua... EU DO FUTURO *gestos teatrais com as mãos*. Mais especificamente, sua maravilhosa eu (ou seria você?) de 26 anos. Se restavam dúvidas de que era eu mesma (nós?), esta forma constrangedora de iniciar a conversa certamente cuidou do problema. Nunca fomos muito boas em começos, não é mesmo? Claramente, não melhoramos. Mas também nunca fomos boas em rodeios, então vamos direto ao ponto… Acho que o próximo passo lógico seria perguntar se está tudo bem, mas acho que nós duas sabemos a resposta pra essa pergunta, né? E é por isso que estou escrevendo pra você. Eu sei que não está tudo bem, e que nem você nem as pessoas que te amam conseguem entender muito o porquê. Mas depois de alguns anos a gente pensa muito sobre isso e começa a entender mais ou menos. E por isso decidi escrever. Essa carta tem alguns spoilers (a gente já sabe o que é essa palavra?), mas eu sei que a gente não se importa com isso... Sei que a gente lê o final dos livros antes, porque não aguenta o suspense. E aviso que vai ficar pior, quando a gente começa a assistir série pela internet e pode ver o último episódio antes do resto. Mas tergiverso... Vou falar o que eu posso sem que a gente cause algum tipo de perturbação irreversível no espaço-tempo contínuo.
Vamos começar pelas notícias boas? Estamos empregadas e diplomadas (sim, sua esnobe, foi na gigantesca decepção que é a federal). Eu sei que parecia impossível, mas aparentemente possuímos habilidades reais que podem ser trocadas por dinheiro! E sim, isso significa que finalmente podemos comprar as roupas e sapatos que sempre quisemos! Talvez não as mesmas, pois felizmente superamos a fase das saias jeans até o pé. E talvez nem todas, afinal somos jornalistas, não investidoras da bolsa de valores. O que me lembra que ainda não sabemos como a bolsa de valores funciona... De repente, vale você aproveitar agora, que ainda temos algum tempo livre, pra aprender o mínimo sobre finanças e, quem sabe, outras coisas adultas tipo fazer arroz. Falando em vida adulta, se é que não ficou claro, a gente não é muito boa nela ainda. Mas tamo aí nessa batalha. Ainda moramos com a nossa mãe, o que é chato por um lado, mas ajuda na economia pra viajar. E comprar coisas das quais não realmente precisamos, tipo maquiagem. A gente aprende a brincar disso em algum momento, com grande ajuda do Youtube. Você já sabe o que é Youtube? Não lembro! Se não souber, prepare-se: o sanduíche-iche vai mudar sua vida. Ah, outra coisa boa... A nossa relação com a nossa mãe melhora muito com o tempo. E com a Giulia também. A gente ainda briga, mas conversamos sobre muitas coisas, de blush a feminismo, e somos a família mais legal do Facebook. Você ainda não tem Facebook, mas é tipo um Orkut no qual as pessoas não te mandam depoimentos bonitos falando que você é +qd+ e julgam BEM mais o seu comportamento. Mas é legal. Você se acostuma e, na verdade, acaba passando mais tempo lá do que no mundo físico. Essa frase pareceu menos patética na minha cabeça, mas você vai se preocupar menos com isso de parecer patética logo mais, eu juro.