"Nesses dias tão estranhos,
Fica a poeira se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez, sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos, os assassinos estão livres
Não não estamos..."
Teatro dos Vampiros (Legião Urbana)
Teatro dos Vampiros (Legião Urbana)
Uma sensação de que não deu certo. De que o projeto era perfeito, tinha potencial, mas se perdeu no meio do caminho, tomou outros rumos e passou do prazo, devendo ser abandonado e eliminado, porque não, não tem mais jeito. É isso que sinto ao pensar sobre a humanidade, sobre o que vemos à nossa volta, na internet, no mundo real.
Na televisão, tragédias. Em Mariana/MG, irresponsabilidade, ganância, crimes. E muita gente morta, um ecossistema inteiro que não se recuperará, destruição por toda parte. Porque uma empresa cometeu um erro crime bárbaro, provavelmente pensando em lucro e sem tomar as medidas necessárias para evitar o que aconteceu.
No governo, um longo silêncio. Uma presidente omissa, que se perdeu em suas trapalhadas e nas maracutaias criadas para elegê-la. Pessoas morrendo e um governo calado, sem se solidarizar ou se pronunciar imediatamente, quando efetivamente deveria. Isso sem contar a vergonha que se espalha pelo Congresso, esse sim um rio de lama ainda mais tóxico que a tragédia de Mariana.
Na França, o terror. O medo e a sensação de que aconteceu em Paris, mas poderia ser em qualquer lugar do mundo, com qualquer pessoa estando no lugar daqueles que morreram. E a lembrança do 11 de Setembro, da destruição, do ódio religioso levado às últimas consequências.
E o medo. Porque o fanatismo religioso extremista não é muito diferente do fanatismo religioso instigado por debaixo dos panos em nosso próprio país. Porque se em Paris tivemos homens bomba e atiradores, aqui temos um discurso de ódio disfarçado de boas intenções, de "é apenas a vontade de Deus", de que os seus direitos não são direitos e de que, desculpa, a Bíblia diz que tem de ser assim.
Fora a repercussão de tudo isso. Que nojo da internet, das pessoas, do ser humano. Comparação de tragédias, como se uma fosse pior que a outra. Como se a lama do Rio Doce e as vidas ceifadas por ela fossem superiores às balas e aos estilhaços de bombas dos atentados de Paris. E os discursos inflamados, as críticas a quem se manifesta em solidariedade a um, a quem se calou e não externou sua tristeza sobre o outro. Mediocridade sem limites e canalhice de sobra.
Alguma coisa deu errado no meio do processo. Esse projeto chamado humanidade, que tinha potencial, tudo para vingar, mas que apenas tornou-se nojento e asqueroso. O ser humano, que se orgulha de sua inteligência e evolução, se perdeu no processo e agora parece regredir ao invés de continuar em busca da plenitude. Nunca antes estivemos tão perto da Idade Média e, mesmo assim, a grande maioria parece não se dar conta do perigo, do extremismo, de que estamos nós mesmos prestes a acionar o botão de reset.
Porque não basta orar por Paris, por Minas Gerais, pelo Japão. Precisamos orar, acreditando ou não, para a humanidade (e uso orar como o símbolo de olhar para si mesmo, para dentro, para o contexto mundial). Precisamos orar por nós, que parecemos perdidos no bonde do progresso e cada vez mais próximos de um fim que não virá por Deus, seja ele quem for, ou por outros meios. Esse fim virá por nós mesmos, que matamos a cada dia um pouco mais da humanidade. Que matamos a nós mesmos. Que matamos o futuro.
Triste fim o da raça humana. Que tinha tudo para dar certo, mas hoje, sem sombra de dúvidas, é apenas um grande e irremediável equívoco. Oremos por nós, pelo todo, pela humanidade.
Porque não basta orar por Paris, por Minas Gerais, pelo Japão. Precisamos orar, acreditando ou não, para a humanidade (e uso orar como o símbolo de olhar para si mesmo, para dentro, para o contexto mundial). Precisamos orar por nós, que parecemos perdidos no bonde do progresso e cada vez mais próximos de um fim que não virá por Deus, seja ele quem for, ou por outros meios. Esse fim virá por nós mesmos, que matamos a cada dia um pouco mais da humanidade. Que matamos a nós mesmos. Que matamos o futuro.
Triste fim o da raça humana. Que tinha tudo para dar certo, mas hoje, sem sombra de dúvidas, é apenas um grande e irremediável equívoco. Oremos por nós, pelo todo, pela humanidade.
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Leandro Faria:, do Rio de Janeiro, 30 e poucos anos, viciado em cultura pop em geral. Gosta de um bom papo, fala pelos cotovelos e está sempre disposto a rever seus conceitos, se for apresentado a bons argumentos. Odeia segunda-feira, mas adora o fato de ser o colunista desse dia da semana aqui no Barba Feita.
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