Ontem (hoje, na verdade, porque acabou já às 2h da manhã)
foi dia de final do The Voice. Não essa versão brasileira, que me desagrada
muito (não farei críticas mais contundentes porque sei que há gente de valor
que trabalha no programa), mas da americana. Sou um imenso defensor da cultura
do nosso país e creio que não existe comparação entre as nossas canções com as
deles. Porém, a execução, o cenário e a grandiosidade da produção tornam a
experiência de assisti-la única. Além do nível dos candidatos e,
principalmente, dos treinadores. 80% do entretenimento desse programa vêm
deles.
Após assistir desde a quinta temporada (estamos na nona, ou
seja, a quinta consecutiva), virei um verdadeiro fã. E vi um bocado de tudo.
Nunca havia torcido pelo campeão: na quinta temporada, minha favorita era a
Jacquie Lee (vice-campeã); na sexta, não tive um preferido; na sétima, de novo
gostava do vice, o roqueiro Matt McAndrew. Na oitava edição, a mais dura pra um
torcedor como eu, minha favorita de todas as temporadas, Kimberly Nichole, foi
eliminada no Top 6. Mas agora, na nona temporada, algo diferente aconteceu. O
mundo se deparou, desde as audições às cegas, com um favorito incontestável:
Jordan Smith.
Gordinho, branquelo, de óculos, cabelo de nerd, Jordan é
quase uma versão masculina e rejuvenescida da já famosa Susan Boyle. Com um
diferencial: Jordan tem uma voz extremamente feminina. Tanto que na sua audição
às cegas, ao cantar Chandelier, de Sia, a câmera não mostrou o seu rosto para
induzir o telespectador à mesma dúvida que os técnicos tiveram antes de virar
as cadeiras. E todas viraram, surpreendendo-se ao ver o simpático rapaz de 23
anos cantando com extrema facilidade os agudos carregados da canção.
E Jordan foi derrubando qualquer barreira musical, cantando
outras divas dificílimas, como Adele, Whitney Houston, Beyoncé... Na semifinal,
encarou Queen e os vocais de Freddie Mercury em Somebody to Love. Em todas as
apresentações, Jordan era ovacionado pela plateia. E o único capaz de fazer os
quatro técnicos aplaudirem de pé.
Mas o que faz Jordan especial, além da sua voz incrível (é
surreal assisti-lo cantar) é a sua mensagem de vida. Nascido no Estado Sulista
(logo, repleto de determinados preconceitos) do Kentucky, ele revelou que
sempre foi gordo e sempre teve uma voz feminina, tendo sido vítima de bullying
ao longo da vida. Mesmo assim, reforça que aprendeu a ser feliz e se aceitar do
jeito que é. Jordan não soa nem um pouco hipócrita: o menino realmente fica
emocionado com as demonstrações de carinho do público e sempre nos bastidores
fala que está quase desmaiando. É hetero e sempre demonstra seu afeto pela sua
namorada, igualmente gordinha, que o acompanha nos programas.
Não havia dúvidas de que Jordan seria o campeão, desde o
primeiro dia. Sua empatia, sua lição e, principalmente, a sua voz (afinal, o
nome do programa é The Voice e só faz sentido alguém com um vocal diferenciado
ganhar) deveriam ser hors-concours. Eu, particularmente, tenho muita simpatia
por outro concorrente, Jeffery Austin, ruivo que cresceu tecnicamente a olhos
vistos (ou ouvidos escutados) e que ainda teve a coragem de se assumir gay em
rede nacional. Se não fosse Jordan, seria meu favorito - e terminou na quarta colocação.
Mas Jordan veio para lembrar que um reality show, além de
entreter, carrega consigo a obrigação de retratar a vida real e até mesmo
cumprir uma função social. E na vida real o que conta MESMO é você se encontrar
com o seu verdadeiro eu. Consagrado ou não através de sua voz para milhões de
pessoas, o gordinho simpático já teria sido campeão de qualquer forma.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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