Algumas coisas, como amadurecer e se conscientizar do que é ser adulta
(coisas diferentes, veja bem), me fazem gastar boas horas de reflexão. A
última delas aconteceu nos últimos dias, em meio a um processo emocional
intenso na construção de um projeto artístico. No mergulho das minhas
emoções, buscava algumas palavras que me ajudassem a dar sentido ao que
precisava captar e enquadrar virtualmente numa junção de pixels. Muitas
vezes aparecia a palavra "recomeço" em minha cabeça.
É aí que parei para pensar no que realmente significa o tal recomeço. É zerar
e começar de novo? É juntar forças e continuar de onde parou? É morrer pra
iniciar? É deixar algo pra trás e começar como se nunca tivesse acontecido
esse passado? Qual a real diferença entre recomeçar e continuar?
Fala-se muito sobre maneiras de se curar de traumas ou conseguir segundas
chances. Fala-se muito sobre recomeçar. Ninguém, no entanto, parou pra
explicar o que isso significa de verdade.
Acho que não existe recomeço, apenas renovações (ainda estou em
processo de pesquisa e desconfio que levará décadas até uma resposta
concreta aparecer na minha frente). Uma junção de forças que te acordem de
onde você parou, como um "play again" do videogame enquanto você ainda
tem vidas. Você só volta pro início do jogo, para a estaca zero, quando elas
acabam. E na vida real isso significa você morrer (literalmente ou para
alguma coisa). E quando isso acontece, não acho que é um recomeço. É um
início. O prefixo "re" tira a beleza do novo. Da inocência de experimentar tudo
aquilo pela primeira vez.
Quando se recomeça, não se sente os gostos inéditos, ou doem as dores
que você nunca sentiu. Você só passa por tudo isso de novo com um monte
de alertas no seu cérebro que te gritam "perigo! perigo! foge!". Recomeçar é
se dar conta que um caminho parece errado e então decidir voltar para pegar
outra direção. Recomeçar, repetir, repensar: zona de conforto.
Começar é seguir pelo caminho desconhecido - e muitas vezes errado
também - e ver onde ele leva. "Mas e as experiências não servem pra nada?
Não te amadurecem?". Certamente. Mas servem mais para você se
conhecer, entender que você também é infinito, também é maior que parece,
e que tudo pode ser viável e possível, e com um pouquinho de esforço, tudo
pode até ser bonito. Se só as experiências contassem, não sairíamos do
mesmo lugar. Se elas não existissem, viveríamos pulando de abismos o
tempo todo. A questão é equilibrar. E a coisa que mais tenho aprendido é que
equilíbrio não significa, necessariamente, igualdade. E acho que recomeço
não significa, obrigatoriamente, uma oportunidade.
Um brinde aos começos, aos inícios e às dúvidas que nos fazem ir um
pouquinho mais além. Deixemos os recomeços pra trás, vamos usar nossas
vidas guardadas, que são muitas e são lindas.
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