Salve Carlos Drummond de Andrade e uma das suas melhores obras, O Amor
Bate na Aorta. Eu reli há poucos dias esse maravilhoso conjunto de palavras tão
bem selecionadas que, juntas, fazem esse carinho na alma. E pode chamar de
brega, de cafona, de “não é pra mim”, mas a verdade é: amor, seja como for, é
bom. De quem for, pra quem for – ainda que o objeto do texto seja sobre o amor
daqueles que a gente celebra quando tem alguém no ultra-comercial dia 12 de
junho.
O poema do mestre Drummond não mente, toca na ferida, mostra o malefício da
melancolia, faz poesia com mato e sangue, coloca tudo em perspectiva. E aí a
gente vê que quando ele chega, não tem mesmo pra onde fugir. É um bandido
perseguido por um policial incansável. É uma via crucis onde a cruz é um peso
gostoso de carregar – mas é pesada por demais.
Eu sou escorpiana em quase nada, mas no que sou, sou muito. E se tem uma coisa
que escorpiano é, sem dúvidas: o dono das dores do mundo. Ou amargurado, pra
quem preferir. Nessa sofrência astrológica que eu nem sei se acredito tanto
assim, eu imploro, suplico, faço promessa e tudo, para que eu não me apaixone
nunca mais. Ô coisa ruim isso de um dia é da caça e outro do caçador, não é
mesmo? Já disse antes aqui que essas metáforas de Fábio Júnior não estão com
nada. Mas, verdade seja dita, ninguém no fundo escolheria não amar nunca mais.
Porque quando acontece (e acontece!) é gostoso, é lindo, é maravilhoso. Beijo é
bom, beijo da pessoa amada é bom demais. Sexo casual é bom, sexo com a pessoa
amada é melhor ainda. A independência é essencial – e boa –, mas saber que tem
alguém que está disposto a dividir o peso do mundo com você é um alívio tão
gostoso quanto acordar achando que perdeu a hora e lembrar que é domingo e
está chovendo lá fora.
E quando acaba é ruim, quando se transforma é ruim, quando passa também é
ruim. E o poema já diz: às vezes sara, às vezes não sara nunca.
Acho que no fim das contas, a grande lição que podemos tirar é que a energia
investida em pensar “onde deu errado?”, “por que acabou se a gente se amava
tanto?” ou “f%*&ˆ#$%@#!”, podemos investir na prática de deixar ir embora
aquilo que não pertence mais ao nosso momento presente. Desconectar do
passado e das falidas possibilidades que jogamos nos ombros do universo lá no
futuro. Porque algo sempre fica, e o que fica pode ser transformado: de tristeza
para carinho, de raiva para perdão, de distância para cordialidade quando
possível, ou para esquecimento quando inevitável. Mas, mais importante, deixar
do lado de dentro o que engrandeceu, jogar fora o que doeu, e abrir as portas pro
novo.
Não costumo dar asas ao sentimentalismo, mas Drummond merece. E pra
encerrar cafona como começou, repito as palavras do mestre:
o amor, seja como
for, é o amor.
E sê-lo é grande demais.
Amemo-nos,-vos,-tu,-eu,-o mundo.
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