Carnaval está chegando e todo
mundo já está fazendo a sua listinha de quais blocos vai pular, quais amigos
vai encontrar ou mesmo se vai fazer absolutamente nada e aproveitar para
descansar. Eu, como já bem alertei um ano atrás aqui no Barba Feita, não sou um
folião. Prefiro passar longe de blocos e afins (às vezes dá na telha sair com
amigos pra fazer uma graça, mas é algo totalmente atípico). Contudo, gosto
muito do carnaval das Escolas de Samba, desde o executado na grandiosa Marquês
de Sapucaí até a miúda festa realizada na Rua da Conceição da minha cidade natal,
Niterói, passando pelo limbo da Avenida Intendente Magalhães, na divisa entre Subúrbio
e Zona Oeste cariocas.
Já acompanhei diversas vezes os
carnavais dos Grupos de Acesso, os antigos A e B, agora unificados e chamados
de Série A; já assisti às Séries B e C na Intendente. Já fui a barracão ver a
montagem da escola do meu coração (da qual meu avô foi um dos fundadores), a
Viradouro, quando ela ainda brigava por título do Especial; e já entrei no
barracão coletivo das escolas dos Grupos B, C e D para ver como os artesãos e os
próprios carnavalescos davam o seu suor para bravamente transformar material
desprezível em festa e história contada na avenida. Não sou um rato de escola,
nunca desfilei (ainda irei!), mas amo essa atmosfera e adoro acompanhar os
desfiles, mesmo às vezes à distância, somente pela editada tela da televisão.
Como será esse ano, após o repouso ainda forçado de um pós-operatório.
Por isso, minha expectativa maior
é sobre o que poderemos ver na principal passarela do Samba do mundo, espremida
entre os pouco nobres bairros do Centro, Catumbi e Cidade Nova. Esse ano temos
uma bela safra de sambas enredo; se não encontramos pérolas como as mais
recentes do Salgueiro (Gaia), Vila Isabel (Festa no Arraiá e Noel),
Portela (Um Rio de Mar a Mar e Madureira) e Império da Tijuca (Batuk), ao
menos a grande maioria apresenta um alto nível perto do conjunto dos últimos anos.
Além disso, para mim, a grande
curiosidade do ano será ver como vai se comportar Paulo Barros na Portela.
Escola mais querida, de maior torcida e mais títulos, não ganha unzinho sequer
desde que eu nasci, em 1984. É a agremiação dos meus pais e, por esse motivo,
sempre nutri simpatia especial por ela, ainda mais depois dos rebaixamentos da
minha Viradouro. Porém, a Portela sempre carregou a bandeira do que mais
tradicional e sisudo ainda havia no Carnaval carioca, sem conseguir se reinventar
(tudo bem que, nos últimos anos, a escola passou mais leve e um pouco mais
moderna).
Paulo Barros foi parar na Unidos
da Tijuca em 2004. Passou por escolas igualmente tradicionais, mas atualmente
menores, como Arranco do Engenho de Dentro, Vizinha Faladeira e Paraíso do
Tuiuti. Amargou uma quase contratação na Caprichosos de Pilares, então escola
do Grupo Especial, quando foi preterido por outro que apresentou um enredo
sobre a Xuxa. Assombrou o mundo do samba ao trazer a Tijuca de aspirante ao
descenso aos gritos de “É Campeã” com suas alegorias humanas. Foi a última
grande revolução do Carnaval carioca, marcando todos os anos seguintes,
inclusive o trabalho de outros colegas (e até desafetos). Teve na Tijuca a
carta branca para deixar para trás toda a tradição da escola em fazer enredos históricos
ou com temas lusitanos e ousou. Saiu dela a primeira vez em 2006 sem um título
sequer, apenas as ovações morais das arquibancadas. Foi parar na minha
Viradouro.
Na agremiação de Niterói, tinha
tudo para conduzi-la ao campeonato e ser consagrado pela primeira vez com um título:
havia dez anos que a escola não era campeã, havia uma comunidade empolgada em
ter o carnavalesco mais badalado do momento, havia um enredo interessante e
havia dinheiro. Todo esse favoritismo foi por água abaixo, com a notícia de que
a escola não passara de um quinto lugar, ficando Paulo Barros atrás de sua
antiga agremiação, a Tijuca. No ano seguinte, nem no Sábado das Campeãs a
Viradouro voltou a desfilar: ficou em sétimo lugar, pior colocação em 12 anos.
Novamente atrás da Tijuca. Foi um desfile realmente decepcionante perto do que
foi esperado. O carnavalesco foi taxado de egocêntrico e equivocado. Foi
demitido de uma forma bem deselegante, já com a preparação do Carnaval do ano
seguinte em andamento, e acabou apenas ajudando na montagem da Vila Isabel em
2009. Retornou à Tijuca em 2010, onde, enfim foi campeão: três campeonatos em
cinco anos (2010, 2012 e 2014; esse último, sobre Ayrton Senna, um tanto
contestado). Uniu elementos de desfile mais tradicionais com suas inovações e
reinventou a si mesmo; uma evolução da revolução, dando um passo atrás para
chegar no alto. Acertou em cheio.
Saiu para, em 2015, ajudar a Mocidade
a dar a volta por cima. O enredo na verde-e-branca de Padre Miguel foi o mesmo
da Viradouro: empolgação, badalação, quase 20 anos sem título, dinheiro, muito
dinheiro. De favorita, a Mocidade caiu para a dura realidade de um sétimo
lugar; e novamente, Paulo Barros se viu atrás de sua ex-escola tijucana.
Na Portela, o carnavalesco terá,
talvez, o maior desafio de sua vida, desde que chegou ao Grupo Especial, em
2004. Tornar a Portela campeã o consagraria de vez, dando o primeiro título à
azul-e-branca de Madureira na era do Sambódromo e também a toda uma geração que,
como eu, já é balzaquiana e não viu a águia no lugar mais alto do pódio. De
quebra, ainda superaria pela primeira vez a Unidos da Tijuca desde que Paulo
Barros a enfrentou na Avenida, fazendo o criador ganhar, enfim, de sua criatura
– claro que a Tijuca tem muito mais história do que a que construiu de 12 anos
para cá, mas também é evidente de que é praticamente uma nova escola, que
cresceu às custas e à herança do talento de Barros.
Será que dessa vez vai? A
resposta teremos na Quarta-Feira de Cinzas. Não perco esse desfile por nada!
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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