Vou começar esse post com uma pergunta: você deixaria de tomar antitérmico se tivesse
uma febre muito alta? Você deixaria de tomar analgésico se tivesse torcido o tornozelo?
Você se recusaria a tomar um antibiótico se tivesse uma grave infecção? Você deixaria de
fazer quimioterapia se tivesse algum tipo de câncer?
Essas perguntas parecem ter uma resposta óbvia na maioria das vezes, mas não é bem
assim. Infelizmente, algumas pessoas que têm HIV/Aids se recusam a tomar os
medicamentos que são essenciais para mantê-los vivos. E por que isso acontece? Muitas
vezes, pelo simples fato de não aceitarem o diagnóstico positivo (reagente).
Pode parecer estranho, mas o preconceito que ainda toma conta da nossa sociedade é tão
grave que faz com que algumas pessoas, quando diagnosticadas, neguem a sua sorologia,
não falando sobre o assunto, não se tratando e chegando a morrer. Conseguir a adesão,
ou aderência, ao tratamento é um dos maiores desafios das equipes de saúde que cuidam
de pessoas com HIV.
Esse mesmo medo é o que leva as pessoas a não fazer o teste anti-HIV e prorrogar o
diagnóstico de uma doença tão séria. E atrasar o diagnóstico não vai fazer com que o vírus
espere. Ele continuará agindo no corpo e com força total. Portanto, não fazer o teste é um
tanto perigoso e deve ser repensado. Testes anti-HIV estão disponíveis gratuitamente em
praticamente todas as unidades de saúde do país. E, muitas vezes, são testes que dão o
resultado em até uma hora.
O último Boletim Epidemiológico de HIV e Aids, divulgado pelo Ministério da Saúde, no dia
1 de dezembro de 2015, mostrou que apenas 52% das pessoas que têm HIV no Brasil
estão em tratamento. Estima-se que cerca de 780 mil pessoas vivam com o vírus e,
apenas, 405 mil se tratam. É bom lembrar que os medicamentos, assim como todo o
tratamento, são disponibilizamos pelo SUS, ou seja, estão garantidos pelos nossos
impostos e não custam uma fortuna como em outros países.
E o que é adesão? É um conjunto de ações que melhoram a saúde do soropositivo e
garantem uma qualidade de vida, como o uso de medicamento, uma boa alimentação,
prática de atividades físicas, dormir bem, evitar bebida alcoólica e outras drogas e levar
uma vida afetiva, mental e sexual saudáveis. Entre elas, uma das mais importantes é o uso
dos medicamentos que devem ser tomados diariamente, em horários acordados entre o
médico e o paciente.
Muita gente critica o uso dos medicamentos como maneira mais eficiente de tratar a Aids,
mas nenhum deles apresenta evidências científicas que comprovem essas teorias que são,
portanto, baseadas em “achismos”. Alguns, inclusive, alegam não existir evidências sobre
o efeito dos medicamentos a longo prazo.
O que eu sei é que a sociedade não tem tempo para aguardar estudos de longo prazo e
que temos que nos basear em evidências científicas de hoje, pesquisas amplas e sérias.
Além disso, devemos lutar contra o preconceito, pois pessoas ainda morrem por negar a
sua sorologia e não conseguir enfrentar seus próprios medos e aderir ao medicamento.
Alguns grupos de apoio em unidades de saúde podem auxiliar as pessoas que vivem com
HIV, a superar as dificuldades. Além disso, grupos virtuais têm demonstrado resultados
impressionantes no auxílio aos soropositivos. Abaixo, cito e explico algumas delas:
Rede Nacional de Pessoas Vivendo e Convivendo com HIV/Aids (RNPVCHA)
Grupo virtual secreto de acolhimento no Facebook onde pessoas que vivem e convivem
com o HIV podem compartilhar suas histórias, seus medos, experiências. É um grupo de
ajuda mútua onde os próprios participantes ajudam a tirar as dúvidas de quem precisa.
Uma equipe multidisciplinar está sendo formada para ampliar a orientação aos membros
e não membros que procurarem ajuda. Discussões políticas não são permitidas nesse
espaço. Para solicitar o convite para participar do grupo, é necessário acessar o formulário, clicando-se nesse link.
Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids (RNAJVHA)
Essa rede é formada exclusivamente por jovens entre 14 e 29 anos que vivem com
HIV/Aids. Pessoas soronegativas e/ou que convivam com o vírus, podem participar, mas
com restrições a voz e voto nas deliberações. É uma rede de caráter político e que já teve
forte influência em espaços nacionais e internacionais. As discussões e votações
acontecem, na maioria das vezes, por um grupo de e-mail e redes sociais. Realizam
encontros presenciais de dois em dois anos. O último, contou com cerca de 80 jovens
ativistas. Para participar da rede, é necessário se filiar e participar das discussões. Conheça mais nesse link.
Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas (MNCP)
Rede composta apenas por mulheres de todas as idades. Surgiu da necessidade de pautar
assuntos específicos das mulheres que vivem com HIV ou Aids. Tem caráter
político, apesar de realizar trabalhos de acolhimento. Também é necessário se filiar à rede
para participar das discussões. Saiba um pouco clicando aqui.
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ Brasil)
Rede de pessoas vivendo com HIV ou Aids mais antiga do Brasil. Tem cerca de 30 anos e
conta com membros de todas as outras redes citadas anteriormente. Também tem um
caráter altamente político e forte influência dentro e fora do Brasil. Para participar das
discussões e votações, também é preciso se filiar. Acesse mais informações clicando aqui.
Portanto, gatinho/ursino/chaser ou qualquer outro tipo de pessoa, procure sempre
informações sobre o tratamento e ofereça ajuda e orientação a amigos que estejam
passando pela descoberta do HIV em suas vidas. Se você não se sente preparado para isso,
basta encaminhá-lo aos grupos de apoio nas unidades de saúde ou na internet e incentivá-lo a iniciar o tratamento.
Ah, e não deixe que o medo do resultado positivo ou do tratamento impeça você de fazer
o teste anti-HIV. Lembre-se que o HIV não espera o teste para começar a trabalhar duro
contra você!
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João Geraldo Netto é marketeiro, barbudo, gay, soropositivo, ativista, apaixonado, inquieto, metódico, chato e muitas outras coisas. E o responsável pela coluna mensal Conversa + aqui no Barba Feita.
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