Estamos às vésperas da Semana
Santa, aquela que culmina na Páscoa. E Páscoa fala de renovação, seja você cristão
ou não. Especificamente no caso de Cristo, para quem acredita nos escritos da
Bíblia (ou para quem os enxerga em boa parte como metáfora, como eu),
simbolizou a vitória da vida sobre a morte, num recado claro de que ideais
estão muito acima da matéria. Desde a vinda do nazareno a essa Terra, há mais
de 2 mil anos, muita coisa já se passou por essas bandas. Mas o povo, não só o
hebreu, parece não ter aprendido exatamente essas mensagens.
As religiões, em sua essência, são
também uma grande metáfora da humanidade: acreditamos tanto em um Deus que nos
criou à sua imagem a semelhança quando, na verdade, o criamos também a nossa
imagem e semelhança no nosso imaginário coletivo. Esse é o motivo de vermos
tanto na mesma Bíblia de um Deus que oscila entre momentos impiedosos e irados
e outros dóceis e repletos de amor.
Por isso, esse acaba sendo um
texto sobre o ser humano. Temos vivido momentos de extrema intolerância,
principalmente em nosso país. Curiosamente, uma nação conhecida e reconhecida
por seu acolhimento, hospitalidade, calor... humano. Acredito que essa
intolerância, na verdade, sempre existiu, mas esteve canalizada em reações como
machismo, racismo, homofobia, discriminação social. Agora, num momento em que
vivemos imersos em uma nova era, na qual a informação e opiniões são difundidas
em redes e até mesmo a mais ignóbil das opiniões tem espaço, vemos
discordâncias que antes eram pacificamente solucionáveis se tornarem fins da
picada.
Roupas vermelhas demonizadas nas
ruas tais como suásticas; manifestantes agressivos e impositivos; xingamentos
em público a autoridades que, queiram ou não, representam (ou ao menos,
representaram) a maioria dos seus compatriotas que optaram por votar em alguém
– e, por mais que não possam ter essa maioria absoluta no momento, ainda
representam as esperanças de milhões de pessoas que não estão refletidas nas manifestações
das ruas.
Tenho minhas convicções
políticas. Assim como as minhas religiosas. Sempre tive como princípios só debatê-las
com quem está aberto a isso. Nunca entendi muito o motivo de se ir ao extremo
em uma discussão de ideias. A grande arte de viver consiste em saber envergar,
e não quebrar. Porque sempre estaremos submetidos a situações de estresse,
pressão e discordâncias.
Infelizmente, parece que não
estamos encontrando um caminho de mais diálogo e compreensão. Não à toa, cresce
a corrente jocosa de pedir para o meteoro vir e dar um grande reset na
humanidade, tal como foi com os nossos precursores dinossauros. Se seria Deus
impiedoso ou bondoso ao optar por tal apocalipse, tenho minhas dúvidas. Mas enquanto
a grande maioria dos brasileiros estiver evitando a carne vermelha na Sexta-Feira
da Paixão e comendo seus chocolates no Domingo de Páscoa, lamentavelmente não
estarão refletindo sobre os rumos que tomamos, sobre a renovação que a data
busca nos fazer refletir.
O mundo está fervilhando. O
Brasil está fervilhando. É um direito de todos aproveitar o feriado entre
descanso, chocolates e bacalhaus. Mas um dever também pensar na mensagem do
nazareno, antes de termos que declarar a falência definitiva da humanidade –
sem a necessidade de meteoros para nos dizimar...
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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Um comentário:
Belo texto... não sabia que tinha tanta gente esperando o meteoro, eu estava pensando mais num pouco de paciencia e gente mais centrada para tentar melhorar as coisas por aqui! eu nem acho que esta tudo tão ruim... era pior quando nao sabiamos de nada! abraços!
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