Não há coisa mais irritante e pejorativa do que uma empresa acreditar que está fazendo um
favor de te manter empregado. Não, não é um favor. Os empregados produzem (e muito)
e por isso continuam empregados. Em tempos de crise econômica, é impressionante como
automaticamente surgem experts em finanças e caos. Aparentemente todo mundo
consegue prever o futuro e se gabar de ter sobrevivido em meio à falências e portas
fechadas pelo país inteiro. A questão é que, vamos combinar, a moeda tem dois lados: se
uma empresa sobreviveu, mesmo com a crise, significa que precisou manter seus
funcionários. Caso todos resolvessem pedir demissão para tentarem empreender por conta
própria, a empresa não produziria nada e, consequentemente, fecharia. Acho que isso deixa
bem claro que um precisa do outro, e ninguém tá fazendo favor para ninguém.
A falta de empatia nas relações profissionais vão levar as empresas para o buraco. Me sinto
humilhada quando sou tratada como uma máquina, que você compra numa loja, liga na
tomada e ela funciona perfeitamente. Pessoas não são eletrônicos, não são ligadas na
tomada e nem continuarão fazendo isso por muito tempo sem desenvolver uma depressão
severa ou um surto de estresse. Quando a empresa condiciona seus empregados à
condições sub-humanas de trabalho, à pressões psicológicas e ameaças diárias, fatalmente
vão gerar um corpo profissional desestimulado, desinteressado e improdutivo. Ainda que a
demissão seja uma atitude paliativa – para não dizer desesperada –, o custo de rescisões,
admissões e de treinamento de novos funcionários é tão alto que não compensa a pose de
chefe-absoluto-majestade-salve-salve.
Por mais difícil que seja se acostumar com as mudanças num âmbito geral (climáticas,
ideológicas, políticas, econômicas, atitudinais, e por aí vai...), elas estão aí, quer queira ou
não. O formato normativo de décadas atrás já não tem lugar no ano que vivemos, mediante
às transformações no pensamento da sociedade. Não funciona mais o patrão sentado em
seu trono disparando ordens sem participar ativamente da produção de sua empresa. Não
funciona mais o modelo corporativo 9 às 18h dentro de uma grande caixa iluminada
artificialmente. As propostas mudam, as demandas são diferentes e a criatividade se faz
mais necessária do que nunca para continuar atraindo olhares para o seu negócio – ou pelo
menos manter os que já olham pra você. E criatividade não vende na farmácia.
A culpa do desinteresse e da infelicidade não é da geração Y, queridos empresários. Talvez
a culpa seja da geração passada que impregnou os ouvidos da nossa geração com o
argumento de que felicidade e sucesso estão estritamente ligados a bons cargos e salários. E
pior, que fraqueza é sinônimo de fracasso. A culpa, também, é das empresas que acreditam
que pedir aumento de salário ou melhores condições de trabalho é um luxo dessa geração,
e não um direito. E que continuam proferindo o discurso de que “se você não quer, tem quem
queira por metade do seu custo”. Sim, tem. Contar com o desespero atual da sociedade que
precisa pagar contas e comer seu arroz com feijão é uma saída. Mas é temporária. O
desespero também te faz aprimorar seu discurso e se vender por muito mais do que você
realmente é. E aí você tem um quadro de funcionários com capacidade inferior, pró
atividade inexistente e a mentalidade de cumprir a jornada de trabalho e não produzir nada
diferente do bê-a-bá do seu escopo. Com o tempo – e bem pouco, na verdade – isso começa
a refletir nos resultados. Investir na gestão e na competência de mentores que olhem além
do contracheque é o maior dos desafios profissionais da atualidade. É preciso abrir a
cabeça, o diálogo e o coração, não esquecendo jamais de que seres humanos precisam ser
tratados como tal. Uma boa conversa sai de graça, previne custos desnecessários e ajuda a
construir valores para embasar seu negócio como sendo algo de gente para gente.
A
geração Y é mais do que infelicidade e reclamação, é um catalisador de talentos, disposição
e inovações que podem mudar o destino de muita coisa no mundo atual. Fazer parte disso
é mais do que um benefício, é uma obrigação. Não se deixem enganar: crises são cíclicas,
passageiras e ensinam muito. Podemos aprender a partir do caos, e descobrir novas formas
de relações profissionais.
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