Você tomaria um medicamento, mesmo que não estivesse doente? E estou falando de
medicamentos fortes e que podem ter efeitos colaterais bastante incômodos. Pois saiba
que muitas pessoas responderiam SIM sem titubear. Mas, por quê? Porque existem
pesquisas, inclusive no Brasil, que têm comprovado que o uso de uma combinação de
medicamentos presentes no Truvada protege da infecção pelo HIV em quase 100%! É o
que chamamos de PrEP, que é o uso de medicamentos antes de se expor ao vírus.
Isso já
seria um bom motivo para repensar sua resposta, se ela foi NÃO, não é mesmo? Mas,
agora, vamos aos pontos positivos e negativos dessa maravilha da ciência:
PONTOS POSITIVOS
- Protege quase 100% das infecções pelo HIV
- Possui relativamente poucos efeitos colaterais
PONTOS NEGATIVOS
- Não se sabe os efeitos do medicamento a longo prazo
- Pode ter efeitos colaterais que podem incomodar
- Não protege de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST)
- Custo alto de manutenção (com algumas exceções)
- Compromisso diário de tomar os medicamentos, pois não pode falhar as doses
E, depois de falar tudo isso, algumas pessoas podem pensar: "Caraca, essa parada é muito
boa! Nunca mais vou transar de camisinha!!!" Ok ok ok... Vamos dar uma atenção maior
aos pontos negativos? O medicamento protege do HIV, mas as pesquisas em curso
também têm mostrado que algumas infecções sexualmente transmissíveis bem sérias são
muito frequentes entre o grupo pesquisado. Além disso, tomar um medicamento forte
sem ter alguma doença pode trazer problemas.
E eu gostaria de falar um pouco mais sobre as outras infecções sexualmente transmissíveis
que não são prevenidas com a PrEP. A gente não dá a devida atenção a essas doenças que
podem causar problemas graves, inclusive a morte. As mais comuns são sífilis, HPV,
herpes e hepatite B. A sífilis pode causar cegueira, nos casos mais graves. Estamos tendo o
maior surto de sífilis no nosso país desde muitos anos. O HPV, por sua vez, é o principal
responsável pelo câncer de reto e garganta. Assim como a hepatite B, é uma doença que
pode passar muitos anos sem apresentar sintomas, mas quando apresenta, podem
causar a morte do indivíduo. E você sabe qual a maneira mais eficiente e barata de evitar
todas essas infecções, inclusive a Aids? CAMISINHA.
Hoje, o HIV já não mete aquele medo que metia há alguns anos atrás e isso é bom e ruim.
Bom, porque estamos desconstruindo aquela ideia de que todos que têm HIV vão morrer,
estigmatizando e causando discriminação e dor aos soropositivos. E saibam que essa ideia
está muito muito errada. Pessoas com HIV conseguem viver quase normalmente, com
algumas restrições, é claro, pois ainda têm que tomar medicamentos todos os dias, devem
ter hábitos de vida saudáveis sob o risco de desenvolverem doenças sérias e que são
comuns entre essa população, além de ainda terem que enfrentar alguns efeitos
colaterais. Porém, podem namorar, viajar, trabalhar, constituir família etc. É certo dizer
que ainda morrem soropositivos, mas em quase todas as situações, é porque eles
descobriram tarde demais ou não puderam/quiseram/conseguiram se tratar.
A parte ruim do HIV não meter mais aquele medo é que as pessoas têm se descuidado
muito. Eu mesmo já ouvi várias pessoas falando que não usam camisinha “porque, hoje,
basta tomar um comprimidinho”. Saibam que não é bem assim. Considerem o que falei no
parágrafo anterior e saibam, também, que as pessoas que vivem com HIV ainda
enfrentam preconceito porque estamos falando de uma doença que ainda é tabu na nossa
sociedade é ninguém normal gosta de ter uma doença.
Se mesmo assim, você prefere abrir mão da camisinha (ou aumentar a proteção) e partir
para a PrEP, prepare os bolsos, porque essa estratégia de prevenção não deve ser gratuita
a todos que quiserem. O Ministério da Saúde pretende disponibilizar esse medicamento
gratuitamente, apenas, a pessoas com alto grau de vulnerabilidade. Esse grau está sendo
definido levando em conta diversos fatores.
O objetivo das pesquisas de PrEP em curso não é comprovar a eficácia dos medicamentos,
pois já existem outras grandes pesquisas que comprovaram e estão comprovando isso. É,
principalmente, verificar a aceitabilidade da estratégia no nosso contexto e sua viabilidade
na política pública do Sistema Único de Saúde (SUS).
O que eu sei, de fato, é que devemos comemorar mais essa importante ferramenta de
prevenção do HIV e esperar um pouco mais para ver como as coisas vão funcionar aqui no
nosso país, mas continuo insistindo que a maneira mais barata, eficiente, sem efeitos
colaterais, rápida e fácil de se prevenir do HIV, ainda é a nossa velha amiga camisinha.
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João Geraldo Netto é marketeiro, barbudo, gay, soropositivo, ativista, apaixonado, inquieto, metódico, chato e muitas outras coisas. E o responsável pela coluna mensal Conversa + aqui no Barba Feita.
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