Começou como uma espinha ou um cabelo
encravado. Algo incômodo tão perto de um corte cirúrgico. Depois, veio a dor. E
uma inflamação digna dos mais purulentos furúnculos. Na sequência, o mesmo em
outro corte. E assim toda a recuperação que corria perfeitamente dentro do
esperado foi para as cucuias...
Sim, tá
meio escatológico, tá meio baixo astral. Mas tudo isso tem se passado comigo e
o motivo: rejeição à linha dos pontos internos. Já xinguei internamente
os médicos que me atenderam, ainda mais diante do alerta que eles fizeram de
que, a qualquer momento, outra ferida como essa pode eclodir no meu umbigo.
Logo eu, que como revelei aqui no Barba Feita, sofro de onfalofobia.
Está
sendo bastante doloroso e incômodo esse processo. Como qualquer rejeição.
Foi sofrendo com a pequena ferida aberta em meu abdômen que notei como o ato de
rejeitar machuca igualmente em sua conotação. Como pode ser dolorido e causar
um ferimento tão purulento e infeccioso quanto aquilo que o nosso corpo
reconhece que não é parte de si e expele na marra.
Não vou bancar aqui o enjeitado, porque
não posso me considerar uma pessoa excluída – mesmo nos meus momentos de vítima
ferrenha de bullying, sempre me inseri, de uma forma ou de outra, com aqueles
com quem me identificava. Mas, como qualquer ser humano, vivenciei situações de
rejeição. Seja no momento em que, franzino e de óculos, não era nunca escolhido
para qualquer time na Educação Física; ou ao, já balzaquiano, peregrinar na
porta de editoras para tentar publicar o meu novo livro. Seja ao ouvir que pais
estão largando seus filhos com microcefalia em meio à atual epidemia; ou ao
saber que europeus estão comemorando tragédias com imigrantes.
Uma vez li uma pesquisa que comprovava que as dores
emocionais tinham o mesmo mecanismo nervoso e eram tão intensas quanto as dores
físicas. Claro que uma marretada é uma marretada enquanto o fim de um namoro é
o fim de um namoro. Mas as marcas que carregamos das nossas dores ao longo de
nossa existência somente nós mesmos sabemos como enfrentamos.
Seja no físico ou no emocional, a boa notícia é que
rejeições cicatrizam. O processo é chato e dolorido, mas com o remédio certo,
num futuro não muito distante, podem ser apenas uma marca para lembrar o que
superamos. E viva o antibiótico!
Leia Também:
![]() |
|
Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
|
|
![]() ![]() |
Nenhum comentário:
Postar um comentário