ANTES...
Bateu uma carência, uma solidão. Saiu da frente do computador, onde já navegava por horas, e se jogou na cama. Rolou de um lado pro outro. A vontade de encontrar alguém, beijar na boca, ficar abraçado só aumentava. Pegou um livro, folheou algumas páginas, tentou ler e nada. Procurou um seriado bacana para assistir online, encontrou, mas aquela vontade não passava. Pegou o celular, e mandou a mensagem curta e direta: "Oi! Podemos nos ver hoje?"
Faltavam dois minutos para as 19h. O outro respondeu imediatamente: "Ainda estou no trabalho, mas se não ficar muito tarde pra você, podemos nos encontrar às 22h30."
Ele não hesitou: "Sem problemas!"
Eram vizinhos, moravam a cinco minutos um do outro, e aquele seria o segundo encontro. O primeiro tinha sido bom, rolou um sexo gostoso, fizeram de tudo, mas faltava a intimidade, o não saber o que o outro gosta; trocaram poucas palavras, longos beijos deliciosamente obscenos e logo partiram pra ação. Ao se despedirem, restou apenas aquela sensação de que não passaria de sexo.
Quatro semanas depois aconteceria o segundo encontro. Mas ele estava em outra vibe, queria conhecer melhor o vizinho, conversar, dar uns beijos menos obscenos, poderia até rolar uma pegação, mas sua libido estava mansa, ele queria mais troca de afeto e menos voragem.
Planejou tudo em sua cabeça enquanto tomava banho. Conseguiu assistir, agora com tranquilidade, o episódio da série que havia selecionado, enquanto esperava o relógio marcar 22h30.
...DURANTE...
Dessa vez já não eram mais dois estranhos; além do sexo, haviam trocado várias mensagens ao longo das quatro semanas que sucederam o primeiro encontro. O vizinho parecia mais à vontade, menos travado e sério, havia uma leveza no ar que dava lugar à tensão da primeira vez. Ele ensaiou dizer que não estava muito a fim de sexo, que estava carente de carinho, de um papo para conhecê-lo melhor, mas teve receio de estragar a noite, propondo algo que o outro não estava a fim e parecer um bobão. Deixou rolar.
Entregaram-se ao sexo e um ao outro de forma mais intensa. Os beijos obscenos tinham algo a mais. Na penumbra do quarto, olhavam-se nos olhos enquanto seus corpos tentavam diluir-se um no outro. Ele sugava o vizinho enquanto lhe eram introduzidos dedos. O vizinho lhe puxava os cabelos, as orelhas, lhe mordia e lambia seu corpo inteiro, e tudo era maravilhoso, mas quando recebeu o beijo grego quase desmaiou de prazer. Os lençóis já estavam encharcados. Seus corpos pareciam minadouros. Entrelaçados num frêmito de vai e vem, entre sussurros e gemidos, gozaram juntos. Diferente da primeira vez, onde o vizinho gozou duas vezes e ele nenhuma.
No ápice do prazer, trocaram um beijo onde ele tinha o gosto do vizinho e o vizinho tinha gosto dele.
...DEPOIS
Enquanto a água do chuveiro escorria por seu corpo, levando pelo ralo todos os fluidos sexuais, sentiu um vazio, e imediatamente foi surpreendido pelo outro abrindo o boxe para se banhar com ele. O vizinho abraçou-o, beijou-o e masturbou-se junto a ele embaixo do chuveiro. Depois da segunda ejaculação ficaram abraçados, trocando carícias delicadas com a água massageando seus corpos. Foi um momento sublime e doce, pareciam um casal apaixonado, e tudo o que ele conseguia pensar naquele momento era: seria tão bom se houvesse sentimento.
Vestidos e recompostos, beijaram-se mais e mais. Quando se despediram, no portão da casa do vizinho, um abraço afetuoso, e mais uma vez o pensamento: seria tão bom se houvesse sentimento. Mas não havia. O que havia era apenas um desejo mútuo que seria consumado sempre que a vontade dos dois convergissem, e isso não era ruim, mas se houvesse sentimento, seria muito melhor.
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Esdras Bailone, nosso colunista oficial do Barba Feita aos sábados, é leonino, romântico, sonhador, estudante de letras, gaúcho de São Paulo, apaixonado-louco pelas artes e pelas gentes.
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2 comentários:
Que viadagem!!!!!!!!
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