Esta semana completam três meses desde a minha cirurgia para
retirada do apêndice inflamado. Uma operação considerada simples, mas que me
trouxe uma série de impedimentos nesses 90 dias que a sucederam. Além das duas
primeiras semanas de repouso, coisas simples como carregar uma sacola de
mercado, limpar a casa ou passear com os meus cachorros requereram mais alguns
dias até poderem voltar à normalidade. A rotina de exercícios, então, essa nem
se fala. Talvez isso tenha se potencializado porque, menos de três meses antes,
havia passado por outra cirurgia, de septo nasal, que também me obrigou a não
fazer esforço por um mês.
Curioso que justamente quando nos sentimos privados de algo
é que realmente damos falta dele... Em relação aos exercícios, o que mais senti
foi a minha corrida. Alguns sabem, sou corredor nas horas vagas, extremamente
amador, mas apaixonado por superar meus limites na esteira e nas ruas.
Participo volta e meia dessas corridas coletivas em que a gente se mata às 8h
da manhã de um domingo pra ganhar uma medalha, uma banana e um isotônico no
final (mas que sempre a gente se pergunta por que está lá e depois já promete
se preparar pra próxima). E não pude, nesses três meses, sequer dar um
trotezinho. Sonhava, literalmente, que estava correndo; por diversas noites,
meu subconsciente me punha correndo durante o sono e eu ouvia a consciência
dizendo: Paulo Henrique, você ainda não pode correr!
O mesmo vale para os exercícios de academia. Nunca fui muito
afeito a eles. Mas sentir seus músculos, por mais que não sejam belos exemplos
estéticos, parados por tanto tempo já me dava aquele incômodo... Ainda mais por
ter entrado em uma academia havia cerca de duas semanas antes da apendicite,
estar conhecendo (e gostando) do pessoal e do ambiente, estar com um novo foco
após nova avaliação e nova série. São coisas mínimas, por vezes fúteis, mas que
mostram como também não percebemos como o nosso cotidiano nos faz falta quando
nos é tomado de assalto.
A recuperação da cirurgia também foi um período para
refletir. Sobre muitas coisas. Sobre quem se importa com você é a mais óbvia de
todas elas. E recebi o carinho, seja pessoalmente, por telefone ou pelas redes
sociais, de mais de uma centena de pessoas que eu nem tinha conhecimento que se
preocupavam comigo. Até há pouco, nos últimos dias, muitos me perguntando ainda
se já estava 100%, se tudo correu bem. Outra coisa foi refletir sobre uma série
de coisas que você julga importante para você e que, após privado, tenta
entender um pouco o sentido ou o papel na sua vida. Como o sexo. Ou a religião.
Ou pegar sua sobrinha no colo. Ou pegar sol.
Ah, é verdade. Ainda não posso pegar sol, se quiser evitar
marcas futuras. E, embora eu seja esse ser branquelo, sou uma pessoa bem solar.
Gosto dos dias. Não tenho problema em ficar sob o sol e adoro uma praia para
recarregar as baterias. Também sinto uma baita falta de um mergulho e de ficar
sentado na areia simplesmente fazendo nada... Principalmente após atravessar um
verão inteiro assim.
Todas essas limitações e impedimentos são uma droga. Mas a
outra opção ao encarar a cirurgia era morrer. Ou seja, não era uma opção. Se
fosse eu nascido algumas dezenas de anos atrás, provavelmente não estaria
sequer aqui pra contar história. Melhor o repouso e a prudência. A rotina me
espera agora.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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