Essa semana li a respeito de uma menina argentina de 17 anos,
Micaela, que estava denunciando, através de suas redes sociais, os abusos sexuais
sofridos por ela desde os seus quatro anos de idade. O autor, como na grande
maioria dos casos, era o próprio pai. Hoje, ela divulga, inclusive, as frases
que ele usava para que ela se calasse: “Estamos só brincando”, “Tranquila... se
você se mexer é pior” e “Quanto mais resistir, mais vai doer”.
No mesmo dia, vi uma brincadeira, que não era tão
brincadeira assim, de uma pesquisa entre mulheres nas quais, entre encontrar
alguém no meio da rua a noite andando atrás dela, 95% delas preferiam que fosse
o capeta a um homem.
Infelizmente, tudo isso é realidade para as mulheres, não
apenas em nosso país, como a nossa vizinha Argentina demonstra. Tudo bem que
somos todos frutos de uma mesma origem civilizatória ocidental. Mas é triste
também pensar que mesmo nas outras diversas origens sociais, dificilmente a
mulher não é subjugada ao homem.
Quantas não são as mulheres que me confidenciam agressões
(ou ao menos atitudes agressivas) por parte de seus maridos. Proibições de
fazer isso ou aquilo, sob pena de pancadas. Colocam-se, os homens, como se suas
esposas fossem propriedades e eles fossem seus suseranos, acastelados em seu
papel feudal de “chefes de família”.
E o mesmo se repete em nossa política. Quantas e quantas
vezes ouvimos xingamentos e impropérios à presidente da República, não por
corrupção ou desvio (até porque não existe comprovação disso até o momento),
mas, sim, a chamando de puta, piranha, vadia... Ou gorda, feia, sapatão... Ou
ouvimos um estádio em coro a mandando ir tomar naquele lugar...
Todos os outros presidentes eleitos após a redemocratização
passaram por processos de contestação e alguns também tiveram impeachment
ventilado. Mas nenhum foi xingado de forma sexista. Ou questionou-se que
precisava de um namorado. Ou avaliou-se que estava acima do peso. Ou que sua
roupa não é adequada. Tudo isso porque temos uma mulher na posição máxima
dentro do Executivo do país. Uma mulher septuagenária. Que não precisa de
namorado, não precisa emagrecer, nem se vestir melhor. Ela só precisa ser
respeitada enquanto ser humano, tendo cometido irresponsabilidades ou não.
Impressiona-me ver que estamos na segunda década do terceiro
milênio pós-Cristo e ainda tenhamos que assistir a mulheres sendo tratadas como
Marias Madalenas bíblicas. O pior é que hoje parece que, cada vez menos, se
avalia antes de atirar a primeira pedra.
Por motivos como esse, talvez, elas continuem preferindo se
deparar com o capeta a um homem na calada da noite. Ao menos, com o capeta, o
inferno é metafórico.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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