Eu costumava viver numa
fantasia maravilhosa, sabem? Aquela de conhecer o cara perfeito num show, ou
numa livraria, onde começássemos a conversar por acaso. Ou também de algum
amigo me apresentar o cara perfeito, que gostasse de mim, que me transbordasse,
fizesse meus dias felizes, me mandasse mensagens de bom dia, perguntasse como
foi o meu dia, e nós nos divertíamos muito, fazendo várias coisas pela cidade,
viagens, programas com a família (dele, já que a minha não aceita), e eu seria
parte de uma família bacana. E teria um namorado que gosta de mim. Um namorado
que ficou ao meu lado. E eu seria extremamente necessário na vida dele. Eu
seria o que faltava na vida dele, a família dele ia me adorar, ele me mandaria
flores no trabalho, teria uma irmã que seria minha amiga, seria tudo perfeito.
Foram vários cenários criados na minha mente, todos após alguma desilusão
grave. Aí eu encontrava alguém e tudo acabava, eu não precisava mais daquela
fantasia, agora eu tinha que tentar fazer daquele momento real algo parecido
com o que eu fantasiava. E nunca dava certo. Claro que nunca daria certo,
afinal, fantasia é fantasia, realidade é realidade. Que presunção a minha, não?
Querer ser essencial na vida de alguém, querer ser necessário, o único que pode
ajudar, que pode salvar o dia. Nada disso. Nós podemos ser especiais pra
alguém, mas nada além disso. Os outros são seus próprios salva-vidas, seus
cavaleiros num cavalo branco, correndo em direção à torre... Não existe isso de
“Sem mim Fulano não vive”, porque
vive sim, do mesmo jeito que nós vivemos sem alguém.