Eu costumava viver numa
fantasia maravilhosa, sabem? Aquela de conhecer o cara perfeito num show, ou
numa livraria, onde começássemos a conversar por acaso. Ou também de algum
amigo me apresentar o cara perfeito, que gostasse de mim, que me transbordasse,
fizesse meus dias felizes, me mandasse mensagens de bom dia, perguntasse como
foi o meu dia, e nós nos divertíamos muito, fazendo várias coisas pela cidade,
viagens, programas com a família (dele, já que a minha não aceita), e eu seria
parte de uma família bacana. E teria um namorado que gosta de mim. Um namorado
que ficou ao meu lado. E eu seria extremamente necessário na vida dele. Eu
seria o que faltava na vida dele, a família dele ia me adorar, ele me mandaria
flores no trabalho, teria uma irmã que seria minha amiga, seria tudo perfeito.
Foram vários cenários criados na minha mente, todos após alguma desilusão
grave. Aí eu encontrava alguém e tudo acabava, eu não precisava mais daquela
fantasia, agora eu tinha que tentar fazer daquele momento real algo parecido
com o que eu fantasiava. E nunca dava certo. Claro que nunca daria certo,
afinal, fantasia é fantasia, realidade é realidade. Que presunção a minha, não?
Querer ser essencial na vida de alguém, querer ser necessário, o único que pode
ajudar, que pode salvar o dia. Nada disso. Nós podemos ser especiais pra
alguém, mas nada além disso. Os outros são seus próprios salva-vidas, seus
cavaleiros num cavalo branco, correndo em direção à torre... Não existe isso de
“Sem mim Fulano não vive”, porque
vive sim, do mesmo jeito que nós vivemos sem alguém.
Quando o véu da fantasia
caiu, eu caí com força na realidade, o que doeu bastante, devo admitir, porque
a realidade é um porre, porém, bastante necessária. Um pouco de fantasia é
sempre bem vinda, claro, mas desde que não se esqueça de que quem impera é a
realidade. O cavaleiro no cavalo branco, com sua espada desembainhada em
direção à torre, pode acabar usando a espada contra você, ou pior, pode ser o
Sérgio Malandro. Já pensou que desgraça?! Aquele encontro mágico na livraria,
ou cafeteria, ou em algum show pode acontecer, mas pode acabar ficando naquilo.
Cada um segue seu caminho. Melhor do que descobrir que o “cara perfeito” da
livraria tem namorado(a), ou o do show estava ali traindo a esposa, ou o
esposo... Às vezes, é melhor seguir seu caminho sozinho(a) do que cair numa
fantasia que vai te deixar pior do que você já estava. Você sem ninguém pode
fazer muita coisa. Quando você descobrir isso, encontrar alguém que te
transborde (e que se permita ser transbordada(o) por você) vai ser uma questão
mais fácil de ser administrada.
Coloque isso na sua
cabeça: a fantasia é linda, maravilhosa, nela você pode fazer o que quiser, mas
uma hora você acaba voltando pra realidade, ou tendo que cair na real, então, se
assegure de não ir muito longe, ou a queda pode ser bem dolorosa.
Isso não quer dizer que eu
abandonei o romantismo, a fantasia, muito pelo contrário. Eu sou um desses
românticos, sabem? Assim como a noiva de um dos casamentos em que cantei teve seu
enlace numa fazenda, de frente pra um lago, ao pôr-do-sol, debaixo de um pé
de jambo, eu também quero que, pelo menos, uma parte dessa minha vida
fantasiosa aconteça. Eu quero alguém pra andar de braço dado comigo na rua,
alguém pra tirar fotos engraçadas, pra fazer declarações melosas, pra me enviar
flores no trabalho, pra eu poder fazer o mesmo, essas coisas. Acontece que eu
entendi que na vida real essas coisas são mais difíceis de conseguir, mas elas
acabam acontecendo.
Enquanto isso... Bem, enquanto a gente não encontra o
certo, vai quebrando a cara com os errados, certo?! É, mais ou menos, porque a
gente já fica tão escaldado quanto a isso que nem quebra mais a cara, nem tem
mais surpresa. O ideal é não se prender à fantasia, ou à realidade, mas sim
encontrar o equilíbrio entre as duas.
(Nota: Obrigado ao PH Brazão, nosso colunista das quartas-feiras, por me deixar usar o nome do livro dele como título dessa coluna!)
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Glauco Damasceno, do interior do RJ, é o colunista oficial das terças no Barba Feita. Tem aproveitado a fase de solteiro para viver tórridos casos de amor. Com os personagens dos livros que lê e das séries que assiste, porque lidar com o sofrimento do término com personagens é bem mais fácil do que com pessoas reais.
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Um comentário:
nossa, que belo texto Serginho! um reflexão tão profunda explicada de forma tão simples...
eu gosto de me fazer util,importante, e achava que isto nao estava errado... so com analise eu descobri que fazia isto para segurar o outro, para ser importante, para ser amado... e mudei
coloquei a mim em primeiro lugar, mas nao deixei de fazer, mas agora vou ate certo ponto, ate certa medida... e foi muito bom o que me aconteceu depois... casamento marcado par dia 26/6, depois de 3 anos de namoro! rsrsrsrr
abraços! fazia tempo que nao lia teu blog!
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