Essa semana me encontrei com um Paulo Henrique que havia
ficado em algum lugar no tempo. Dentro de uma caixa no canto de um cômodo da
minha casa estava a última fronteira de uma história que durou 25 anos: a época
em que morei sob o teto dos meus pais. Estavam dentro daquelas finas paredes de
papelão os meus últimos pertences que faltavam ser despachados pela minha mãe e
que traziam com eles muito do que vivi na minha infância e adolescência.
Primeiro, encontrei minhas revistinhas de super-heróis.
Lembrei-me da época em que, semanalmente, comprava as historinhas de
Super-Homem, Batman e os Vigilantes de Gotham, Superboy, Liga da Justiça, Novos
Titãs e Shazam! (a revistinha do Capitão Marvel, que, mesmo com esse nome, era
da DC Comics). Estavam ali, quase inteiras. Talvez sejam uma relíquia de
colecionador um dia.
Logo abaixo dela, as caixas com os meus bonecos de
Cavaleiros do Zodíaco. Eu era um fã inveterado deles. Cheguei a fundar em minha
casa um fã-clube com o meu melhor amigo, Felipe Tostes, que teve cinco integrantes
(nós dois, minha irmã e dois primos). Junto, encontrei a carteirinha do tal
fã-clube, cujo código era C-20/11/13-Z (não sei exatamente o que isso significa
hoje em dia... se foi uma profecia com o ano de 2013, já perdi). Havia até uma
fita isolante preta colada, para imitar a tarja magnética. O telefone era o
celular do meu pai, que tinha apenas sete dígitos. Assim como a carteirinha, os
brinquedos e suas armaduras estavam intactos.
Também encontrei na caixa os desenhos de super-herói que eu
mesmo fazia. Havia uns com traços beeeem infantis, outros já um pouco mais
refinados. Encontrei por lá o Patriota (versão tupiniquim do Capitão América,
com direito a escudo com o brasão da nossa bandeira) e a Patrícia (espécie de
Batgirl do Patriota), o Capitão Universo, o Starman e o Voltage. Imediatamente
me recordei de algumas histórias que cheguei a criar com eles, em especial o
Patriota, que salvou o Brasil de alguns vilões (quem sabe se ele existisse
agora, estaríamos livres de umas quadrilhas que andam soltas...).
Vieram nessa mesma caixa uns jogos de tabuleiro. Estavam lá
Interpol, Castle Adventures (?), Conhecendo o Mundo (?) e Carmen Sandiego, a famosa
fugitiva da polícia. Um bloco com desenhos e histórias do meu jardim de
infância também, estampado por um Pato Donald que eu mesmo colori (até hoje,
meu personagem favorito da Disney – e cheio de identificação comigo).
Encontrei também o meu primeiro trabalho da faculdade, com
os amigos Liriane, Bruno e Thaís, no qual falávamos da difusão do livro na aula
de História da Comunicação. Um seminário todo teatral que nos rendeu um 10 (mas
a parte escrita levou 3, o que me deixou pela primeira, e única, vez na vida em
recuperação).
Dentro da caixa também estavam duas revistinhas
pornográficas heterossexuais de bolso, proibidas para menores de 21 anos (!) e
que custavam R$ 1,50. Com atores com cabelos, bigodes e depilações da década de
1980 (ou seja, sem depilação), com o destaque “All color” na capa, cujos
títulos eram “Feras Sexuais” e “Fúria Sexual”. Termos como “minha aranha peluda”,
“sentei no trolho” e “pode me chamar de biscate” povoavam as parcas páginas das
duas publicações que, eu tenho certeza, só estavam ali para a minha mãe dar o
recado de que sempre soube de tudo o que eu mantinha escondido dela durante a
adolescência (como se eu não conhecesse a Dona Beth...).
Com uma dose de loratadina pra aguentar remexer nos ácaros,
como foi bom esse reencontro numa tarde de terça-feira. Nada foi para o lixo,
está tudo agora devidamente armazenado, de forma adequada, sobre o armário do
escritório. Relíquias de mim mesmo que valem poucos reais, mas trazem tanta
realidade de uma vida ainda inocente e cheia de indefinições e expectativas.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor do livro Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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3 comentários:
Queria ter tido essa cultura quando era criança.
Estes momentos são muitos bons. Acho que esta música tem tudo a ver com este momento: Capitão Gancho da Clarice Falcão.
"Se não fossem as minhas malas cheias de memórias
Ou aquela história que faz mais de um ano
Não fossem os danos
Não seria eu"
Abraços.
que divertido Paulo Henrique.... eu tenho muitos guardados "nostálgicos", e ás vezes acho alguns novos na casa de minha mae... o mais divertido é encontrar coisas que nem lembramos mais o que é....
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