Lembro-me muito bem quando, naquela manhã de 2001, um dos
meus professores de História invadiu a sala de aula afirmando que havia
acontecido um atentado terrorista de proporções nunca antes vistas e que,
finalmente, o século XXI havia começado. Ironicamente, era bem a hora da aula
de inglês e aniversário da nossa teacher. Todos ainda estavam bem atordoados e
não sabiam o que se passava. No meu último ano antes do vestibular,
vivenciávamos algo que entraria para os livros e seria estudado pelas próximas
gerações.
Como meu professor bem lembrou, toda virada de era acaba
tendo o seu principal marco, que dita a sua tônica. Infelizmente, ele estava
correto em sua previsão: desde aquele dia 11 de setembro, nunca mais vivemos
tempos como antes. Atentados terroristas volta e meia feriam a humanidade, como
um herpes que adormece e eclode em momentos de menor imunidade; mas não eram
essa peste bubônica que vivemos agora. Há
15 anos vivemos tempos de medo, que recrudesceram com a erupção do Estado
Islâmico. E agora, às vésperas das Olimpíadas no Rio de Janeiro, cidade na qual moro e trabalho, o fantasma nos ronda como uma preocupação, pela primeira vez,real.
Nunca achei que precisaríamos nos preocupar com um atentado
terrorista no Brasil. De certa forma, pensava como a grande maioria dos brasileiros:
que estávamos imunes a isso, como somos a vulcões, maremotos, terremotos e
furacões (se bem que esses dois últimos andaram nos rondando, em menor
magnitude, mas andaram). Meu engano é que, diferentemente de passar por uma
providência divina ou uma construção geológica, atentados são frutos da mais
instável das instituições já conhecidas, que algoritmo nenhum conseguiu
desvendar plenamente ainda: a mente humana.
O que faz alguém comprar um ideal raivoso que não é seu, que
não edifica nada e que ainda passa pela subjugação da vida de outra pessoa? Pra
mim, é muito difícil compreender isso. Matar, por si só, já é condenável. Matar
inocentes, então... Muitos alegam que vivemos, já, no Rio, dias de terror, com
assaltos, latrocínios, execuções ou mesmo mortes em vão. Não deixa de ser uma
verdade... Mas mal ou bem, nos adaptamos (infelizmente) à essa triste realidade
e ajustamos o nosso “drive” àquilo que se tornou nossa cidade. Um atentado pode
acontecer em qualquer momento, em qualquer lugar. O que aterroriza é não ter
qualquer segurança garantida. Não existir sequer algo que o coloque em uma
situação de risco, como em um assalto, por exemplo. E a sensação de que nossa
falta de experiência com o assunto não nos garantiu uma inteligência mínima
necessária para evitar, de fato, atos como esses. Ou alguém duvida que, em 2001,
os EUA não acreditavam que poderiam ser alvos de um atentado dessa proporção? A
real preparação só veio após o incidente, lamentavelmente...
Pior é que tenho os meus questionamentos se esse excesso de
notícias sobre o Estado Islâmico ajuda a combatê-lo ou só alimenta a sua
ideologia. Muitos dos kamikazes que atuam de forma fundamentalista em nome do
Islã são conquistados apenas por ideologia. É uma guerra onde não existem QGs,
pois não se precisa de um quartel para se treinar... Muitos até foram ao
Oriente Médio receber seu treinamento, em especial na Síria. Mas aqueles que se
identificam e acreditam nas ideias do El podem agir de forma isolada. E disso,
ninguém está blindado: como diz o ditado, cada cabeça uma sentença.
Torço pelos Jogos Olímpicos do Rio. Mesmo com todas as
críticas, nunca fui contrário. E torço, mais ainda, para que sejam de paz – não
só por mim e pelos mais próximos, mas por todos, moradores e turistas. Como
torço em todas as grandes confraternizações da humanidade. Como torço todos os
dias por tempos mais pacíficos.
Se me lembro dos dias em que as torres ruíram, também me
recordo que, quando pequenino, tinha medo de um míssil da Guerra do Golfo
desviar e explodir na minha janela. Pedia, nas minhas preces diárias antes de
dormir, pela Paz Mundial. Quando cresci, abandonei esse pedido das minhas
orações, calejado pelo aprendizado de que seria uma utopia pensar que teríamos
um dia sequer no planeta inteiramente pacífico.
Uma pena se tornar adulto...
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor dos livros Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades e Perversão. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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