
- A lua tá lindona, não é? - Jefferson abraçou Gael por trás, pousando seu queixo no ombro direito dele.
- Lua? Que lua, tá doido? Só tem estrelas e algumas nuvens... Ah, meu Deus, é efeito colateral da químio? - Gael saiu do abraço e olhou para Jeff, o rosto cheio de preocupação, enquanto o de seu namorado com câncer em fase terminal reluzia num sorriso que iluminava a noite fria de Agosto.
- Não, ainda não está na hora dos efeitos colaterais. Vai demorar um pouco, eu acho.
- E você me fala isso assim, com esse sorriso de quem acaba de... sei lá, ver um prato de lasanha? - Gael arfava de preocupação.
- Quieto, quieto, vem cá, deixa eu te abraçar. Vamos admirar a lua. - Jeff virou Gael e o abraçou, a respiração leve, tranquila, as mãos formando um cinto de segurança no peito do companheiro, o boné virado para trás, os olhos negros olhando o céu escuro.
- Sério, para com esse negócio de lua, não tem lua nenhuma.
- Gael, use sua imaginação, vamos. Olhe para o céu, me diga o que vê.
- Ahn... Nuvens sendo carregadas pelo vento, bem devagar, algumas estrelas avulsas, a luz da cidade...
- Imaginação.
- Tá bem, tá bem. Nossa, a lua está mesmo linda! Redonda, parece uma hóstia.
- Tá iluminando a rua toda, não é?
- Sim! - Gael respirou fundo e enfiou as mãos nos bolsos da calça.
- Sempre que você se sentir triste, eu quero que você olhe pro céu, e mesmo que não tenha lua, você vai ver uma.
- Jeff...
- Gael, me escuta.
- Não, não quero.
- Mas você precisa. - Abraçou Gael mais forte. - Eu não vou estar aqui pra te proteger. Eu tenho, o que? Quatro, cinco meses sobrando, e olha que eu tô sendo otimista quanto a cinco meses. Não vou dizer que você não deve ficar triste. Você pode e deve ficar triste, mas sempre que se sentir assim, eu quero que olhe pela janela do seu quarto, ou para o alto quando estiver fora de casa, e procure a lua. Se ela não estiver lá, você vai mentalizá-la, e vai pensar nesse momento. Somos só nós três: Você, eu e a lua, e ela é testemunha do quanto eu amo você.