No dia 16 de março de 2016, eu
estava em Brasília. A cidade estava um
caos. Já passava das duas da manhã e um
buzinaço ainda ressoava por toda a cidade.
Neste dia, a capital protestava contra a indicação de Lula para ser ministro
da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff.
O povo achou que era uma manobra.
E era mesmo.
Era um artifício para evitar o
impeachment, garantir foro privilegiado contra as investigações de Sergio Moro,
tirar Aloizio Mercadante do Ministério da Educação, recomeçar uma articulação
política para manter o projeto de poder do Partido dos Trabalhadores e,
principalmente, ter uma queda de braço direta com Eduardo Cunha.
Sempre achei que política era
como montar um castelo de Lego. De peça
em peça, construímos um império. Temos
que ter as peças corretas, senão, o troço fica torto. Infelizmente, a população não tem muita
paciência para brincar de Lego; então, acaba não entendendo nada de
política. A população também tem outro
defeito: não consegue guardar a cara de nenhum político. E aí, eu também associo àquele joguinho de
memória, onde inicialmente temos todas as cartas com a figura na nossa frente,
temos 1 minuto para memorizar, viramos as cartas e, depois, tentamos acertar os
pares de figuras iguais. A população não
sabe brincar de jogo da memória. Então
esquece quem são os políticos. Sem
pecinhas de Lego e sem memória, não tem como entender a política.
Teori Zavascki, Zélia Cardoso de
Mello, corrupção em Furnas, Eriberto França, PC Farias, propinoduto, “1/3 para
São Paulo, 1/3 para Nacional, 1/3 para Aécio Neves”, “estupra, mas não mata”, Fernando
Collor de Mello, o helicóptero do pó, a merenda de SP, o contrato Alstrom e o
metrô, a construção do aeroporto na fazenda, Pedro Collor, “relaxa e goza”,
banco Safra, Coroa-Brastel, Romero Jucá, comissão da verdade... Nomes, pessoas,
situações e frases polêmicas do passado e do presente que, parodiando Blade
Runner, se perderão no tempo como lágrimas na chuva.
Voltei a Brasília esta semana e novamente presenciei uma mudança de rumo em nosso país. Desta vez, sem buzinas, sem gritos. O povo cansou? Brasília continua a mesma que deixei em
março. A mesma que deixei ano passado, a
mesma que deixei em 1990.
“Brasília tem centros comerciais. Muitos porteiros e pessoas normais. As luzes iluminam, os carros só passam. A morte traz vida e as baratas se arrastam. Os prédios se habitam, as máquinas param. As árvores enfeitam e a polícia controla.”
Juro que pensei que setembro
nunca chegaria. Fiquei com medo de
dormir dia 31 de agosto e acordar no dia seguinte com a folhinha se
transformando em 32 do mês 8. Mas será
que realmente acordamos? “Afastar
definitivamente por causa do conjunto da obra”.
Acusada de corrupção? Não! O processo é idêntico ao processo de Kafka: a
história de Josef K, o funcionário de um banco que é processado injustamente e
julgado por um tribunal misterioso. O
crime? Ninguém sabe. Nem ele mesmo. Os dois guardas o chantagearam afirmando que
Josef K cometeu suborno. O mesmo
sistema falho e vulnerável.
Ela “pedalou”. Mesma estratégia usada por ex-presidentes,
governadores, prefeitos. Quem
acusa? Um réu. Quem pune?
Dezenas de pessoas que respondem a processos na justiça.
Vingança. Ela não deu os três votos do Partido dos
Trabalhadores para salvar o pescoço de quem criou o motivo do afastamento. Ainda tinha mais coisa. Mas era melhor estancar, afinal, dezenas de
políticos estavam ali, no esqueminha.
A melhor explicação para quem
ficou aplaudindo sem entender toda a farsa encenada, foi dada por um mestre que
tive na época da faculdade. Um dos
professores que me ensinou a enxergar as cartas marcadas da memória e o eterno
montar e desmontar de cenários possíveis e imprevisíveis...
“Em algum momento, o TSE julgará a ação do PSDB que pede a impugnação do Temer (...) Mas não será este ano, o que levaria a novas eleições (...) o PSDB tem divisões internas e não possui um candidato competitivo. Se Temer fizer um governo que agrade ao mercado e não leve a cabo todas as maldades anunciadas, o Meirelles, aquele carequinha que você acha simpático, será o candidato com grandes chances. O PSDB ficaria mais seis anos longe da presidência. (...) Provavelmente a ação seja julgada no próximo aninho. Aí, o Congresso elegeria o presidentinho. Tá difícil de entender? E você acha que alguém será eleito sem o apoio do PMDB? Mas não pense que será necessariamente o tio Serra ou o tio Alckmim. O PMDB do tio Renan pode indicar alguém do próprio partido (...) E se o Temer fizer um péssimo governo, o que acontece? O PSDB não vai querer ficar associado a ele. Quem sobra? Aquele barbudinho que você odeia (...) Mas farão tudo para que ele seja preso e fique inelegível. Quem sabe assim os tucaninhos conseguirão voltar à presidência. (...) para que isso ocorra ele terá que ser apoiado pelo Moreira Franco, pelo Jader Barbalho e, lógico, pelo Tio Renan. (...) A Dilma, aquela tia boba e chata, caiu de pé. Você está de quatro. E ficará assim até entender que democracia é respeitar quem venceu nas urnas e, sim, que uma reforma política é importante."
Só posso aplaudir de pé. E dizer que, infelizmente, a História nos
mostra que somente os vencedores a escrevem.
Portanto, o que é passado é somente a versão da Carochinha. Aquela mesma que aprendemos na época da
escola quando nos disseram que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil e que a
família real portuguesa veio para o Brasil porque eles achavam isso aqui muito
legal.
Ainda temos memória. E sabemos brincar de Lego.
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4 comentários:
Muito bem!!! Uma boa leitura. Explica como as coisas são de verdade. Pena que a grande maioria não entende!
Muito bem!!! Uma boa leitura. Explica como as coisas são de verdade. Pena que a grande maioria não entende!
Esquerdista tentando ser intelectual, falando de forma vaga e sem objetivo nenhum.... meio clichê não acha, não?!... a teoria crítica já encheu o saco...
Os "anônimos" deveriam, ao menos, ter a coragem de possuir personalidade. "Anônimo", dê as caras aqui para podermos discutir de forma amigável. "Clichê" é postar uma opinião às escuras usando o velho "clichê" de afirmar uma opinião de "clichê". E o pior: taxando uma opinião contrária à sua como "esquerdista".
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