O assunto começou ao tratar do meu último texto no Barba
Feita, aquele em que dissertei sobre o meu novo aparelho de celular, o Pop 4, da Alcatel. Estava contando porque fui parar no Windows Phone e lá fiquei por
tantos anos (não era paixão alguma pela Microsoft, mas, sim, fidelidade à
Nokia, marca que utilizo desde o meu primeiro tijolão, em 2001). Como falei no meu texto da semana retrasada (aqui os textos se interligam que é uma beleza),
no grupo dos colunistas do Barba Feita no Facebook Messenger vale tudo e
falamos de absolutamente qualquer assunto sem pudores ou censuras, o papo
descambou para a discussão dos limites de fidelidade e lealdade. E não apenas a
marcas de telefone.
Não chegamos a um consenso. Aliás, acho que sequer tentamos.
Rolou um coletivo: “ah, depois discuto esse lance de fidelidade x lealdade.
Hoje tô cansado” (já era madrugada). Mas no mesmo momento, dei uma rápida
googlada (como a gente viveu tanto tempo sem isso?) e, segundo o nosso oráculo
onipresente e onisciente, fidelidade é a caraterística do que é fiel, do que
demonstra zelo, respeito por alguém ou algo. É também a constância nos
compromissos assumidos com outrem. Pode ser, ainda, sinônimo puro e simples de
lealdade.
Fidelidade, portanto, é algo subjetivo. Mais ainda, é algo
empírico, individual e intransferível. Aquilo que é ser fiel, para uns, não é
para outros. Quantos relacionamentos não acabam por uma simples mensagem de
WhatsApp ou uma foto via inbox do Facebook sem que algo de concreto tenha se
consumado? E quantos não resistem a aberturas ou flexibilizações, tais como
ménages, suingues e afins? Será que quem adota essas práticas em seus
relacionamentos se sentem infiéis? Será que os parceiros que veem seus
respectivos fazendo sexo de forma consentida com outros enxergam infidelidade
no ato tanto quanto aqueles que não toleram sequer uma mensagem mais íntima
virtual ao flagrar uma troca de nude ou uma provocação mais picante, por
exemplo?
Certa vez ouvi da psicóloga e sexóloga do programa Amor
& Sexo, da TV Globo, Regina Navarro Lins, que a monogamia obrigatória
tornou os relacionamentos humanos ocidentais mais frágeis. Que a pessoa,
independentemente do que optasse com o seu parceiro, deveria se fazer apenas
duas perguntas:
- Eu me sinto amado(a) pelo(a) meu(minha) parceiro(a)?
- Eu me sinto desejado(a) pelo(a) meu(minha) parceiro(a)?
Acredito naquela velha máxima: “o combinado não sai caro”.
Infidelidade, para mim, é tudo o que está fora do que é acordado pelo casal –
inclusive se esse casal é apenas de duas pessoas ou se há outras formações,
como os mais modernos trios ou quartetos. Os integrantes podem participar de
orgias todos os dias e não se considerarem infiéis; assim como uma fidelidade
pode ser ferida, sim, por uma safadeza virtual, se um dos lados da relação se
sentir desrespeitado com isso.
E, de fato, há aqueles que não são fiéis, mas são leais. É
uma velha alegação quando se há uma pulada de cerca não-consentida. Justo ou
não, é um argumento. Mas e quando se é fiel, mas não leal ao seu parceiro?
Quando se mantém dentro do padrão normativo beato, casto e monogâmico, porém se
deseja ver a pessoa longe, sem sequer qualquer respeito, amor ou atração? Quando
se sustenta uma relação simplesmente pela vontade se não se ter uma velhice
solitária ou mesmo ser barrado na porta do Céu quando já se vive um inferno
aqui na Terra? O que lhe parece mais digno? O que lhe parece mais justo? O que
lhe parece mais sincero?
Relacionamento é como uma impressão digital: cada um tem o
seu. Dentro dos seus meandros e vilosidades, encontramos nossa identidade. E
tal qual uma impressão digital, que pode se modificar após anos de calos,
feridas e outras intervenções, uma relação também pode. Alguns casam esperando
que o outro mude e ele não muda. Outros casam esperando que o outro não mude e
ele muda. O importante é não simplesmente depositar no outro as suas
expectativas pura e simples. Sentar, conversar e entender, por mais duro e
revelador que seja, é o melhor caminho.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor dos livros Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades e Perversão. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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