O último mês do ano é o que mais
gosto, pois tem cheiro de festa e está sempre iluminado pelo sol (ou quase
sempre). Nasci no dia 4 de dezembro, dia
de Iansã sincretizada com Santa Bárbara, orixá dos ventos e raios. Coincidências à parte, sempre chove. Quando pequeno, ficava torcendo para que a
tempestade não prejudicasse a festinha do aniversário. O temporal desabava e, ao entardecer,
formava-se um imenso arco-íris no horizonte, que considerava mágico: nuvens
negras, relâmpagos estroboscópicos e tonitruosos trovões que, de repente, eram
transmutados em pinceladas expressionistas no meio do céu.
Este ano, a cena se repetiu:
fiquei preso no dilúvio e quase cheguei atrasado na minha própria festa-surpresa-Minion
que meus amigos prepararam. No fim, deu
tudo certo. E o grande arco-íris voltou
a emoldurar o firmamento.
Em dezembro ganhamos mais abraços, comparando com todos os outros meses do ano.
As pessoas ficam mais emotivas e solidárias sob as luzes cintilantes. E também ficam mais afobadas. Parece que todos correm em uma maratona
contra o próprio tempo. Tenho a
impressão de que a contagem regressiva para o ano que se inicia não se dá às 23:59
do dia 31, mas sim, a partir do próprio dia 1º de dezembro.
Apesar de toda a magnitude, dezembro
também tem coisas insuportáveis. Então
é Natal, a aterradora versão de Simone para So this is Christmas, de John
Lennon e que roda em looping na Lojas Americanas é hors concours. Em seguida vem o jingle da Leader Magazine e os
Papais Noéis insossos dos shopping centers, que fedem a cecê naqueles pesados
veludos vermelhos no calor intolerável e que no fim do dia estão mais é
querendo degolar tal qual um Gengis Khan versão Lapônia, cada criança histérica
que senta ao seu lado.
Mas o pior de tudo são aquelas detestáveis
“caixinhas de Natal” e os tais “livros de ouro” que nos são entubados coercitivamente. Existem contribuições para o porteiro do
prédio, para o segurança e para a recepcionista do seu trabalho, para o
entregador do jornal diário, do carteiro que entrega sua conta de luz e a
fatura da assinatura da TV (impressionante como eles se tornam dois, três ou
quatro), da empacotadora da padaria, do açougueiro, do entregador do Mr. Pizza
e do I-Food... Gente que você nem sabia que existia no planeta ou jurava que
era um figurante do clip de Thriller surge ou ressurge em dezembro por causa das
malditas caixinhas. Outro dia, a minha
avó tinha dado 20 reais para o entregador do O Globo. Fiz um escândalo. Onde já se viu isso? Se todos do prédio e da rua contribuíssem com
esse valor, ele estaria feito na vida.
E aquelas horripilantes coreografias
realizadas pelos funcionários das lanchonetes que cantam e dançam quando
recebem caixinhas gordas? G-Zuis... Acredito que as pessoas que contribuem fazem
isso de sacanagem só para que eles possam repetir aquele mantra constrangedor
tal qual um atendente do Outback cantando parabéns para o cliente na mesa.
“obrigado pela caixinha gordaaaaaaa... Feliz Natal e um próóóóóóspero
ano novooooo... hohoho” que se mistura com o “parabéns para você, heeeey”
O horror, o horror.
Pois então... Já que esse ano não
teremos engarrafamentos bíblicos por causa da árvore da Lagoa (que vergonhosamente
não será montada depois de 20 anos consecutivos), é chegada a hora de retirarmos
a caixa empoeirada de cima do armário, desembaraçarmos por quatro horas os dois
quilômetros de pisca-pisca velho e montarmos a nossa tradicional árvore no
canto da sala.
Dezembro chegou, pessoal.
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