Ainda estou sob os efeitos da biografia Elis Regina - Nada Será Como Antes (Editora Master Books), do jornalista Júlio Maria. Terminada a leitura, saio sem fôlego da vida de uma artista sensível, inteligente, intensa e, sobretudo, apaixonada por seu ofício.
Elis Regina tinha gana de viver, por isso não calculava perdas e danos, apostando sempre no que acreditava e permitindo-se mudar de opinião para reinventar-se sempre que sentia necessidade. Uma mulher que não viu da areia nem boiou no raso: Elis mergulhou fundo, como que prevendo a curta vida que teria (morreu aos 36 anos). Fez um disco a cada ano - às vezes, dois -, realizou espetáculos memoráveis a cada temporada e, entre discos e temporadas, três filhos.
Amou, danou-se, acertou e errou no ritmo de um ciclone, sem tempo para ficar em cima do muro ou ver a banda passar. Absurdamente insegura, apesar de ser a maior cantora do país (ou justamente por ser a maior), Elis se revelava a cada interpretação - uma estranha entrega onde a cantora e a mulher eram perigosamente postas em cena, sem concessões. Muito longe do proscênio, a artista se dissipava com os aplausos e dava espaço à mãe de dedicada vida doméstica e à esposa (por vezes, tão dilacerada pelos traumas de um coração sempre em conflito).
Agora que terminei o livro, saio com uma certa sensação de urgência de vida, de amor, de realização de desejos. A consciência da fugacidade das coisas pode ser tão chocante quanto libertadora.
Elis quando cantava que queria “destilar as emoções” não estava de brincadeira. Ela teve uma trajetória tão ligeira quanto profunda, de falsos e verdadeiros brilhantes, capaz de cantar o Brasil e a si mesma com tamanha plenitude que deixou suas digitais na História como a mais completa cantora que se teve notícias por aqui.
Ninguém duvida, meu caros: Elis foi, e é, a melhor de todas.
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