Na semana passada, escrevi um texto em que mencionava a importância que o meu primeiro namorado teve na minha vida – era seu aniversário exatamente na última quarta-feira, 18/01. Como disse, fomos imaturos em
muitas coisas, erramos muito. Passaram-se mais de 15 anos e hoje em dia nos
damos muito bem – tivemos a oportunidade de conversar sobre questões que havíamos
guardado um a respeito do outro. E temos uma relação cordial e até divertida.
Ele me ensinou muitas coisas àquela época – acima de tudo, me mostrou que eu
realmente queria e poderia ser feliz com alguém do mesmo sexo ao meu lado,
mesmo que não fosse ele.
Pois bem, mandei o link do texto para o rapaz. Ele me respondeu
dizendo que estava muito feliz de ter tido essa importância na minha vida. E
que esse havia sido o melhor presente de aniversário que ele havia ganhado.
Para mim, foi uma sensação curiosa: eu nunca havia experimentado ser amigo ou
ter mais contato com qualquer ex meu antes; nos reaproximamos de certa forma
recentemente, inclusive por questões de trabalho – olha como o mundo dá
voltas... E tem sido uma experiência boa.
Meu amigo Silvestre Mendes, que escreve aqui no Barba Feita
às quintas-feiras e ultimamente tem sido um dos meus maiores conselheiros e
entusiastas, certa vez escreveu sobre essa necessidade que acabamos aprendendo de obrigatoriamente desenvolver algo ruim pelo outro quando se chega ao fim.
Quantas vezes não ouvimos que “ex bom é ex morto”? Realmente, fomos treinados
para viver felizes para sempre; se não deu certo, a culpa é do filho da p*%a do
outro.
2016 foi um ano em que acompanhei muitos términos de
relacionamentos de amigos. De janeiro até o apagar das luzes de dezembro, perto
do Natal, tive pessoas próximas dando um ponto final em suas relações como
companheiros. Mas, e outras relações não são viáveis entre essas pessoas? Alguém
que esteve ao seu lado com tanto afeto e tem seu lugar na sua trajetória,
muitas das vezes com belas memórias, apenas merece agora o inferno ou a
indiferença após chegarem a um fim?
Curiosamente, no meio de 2016 também fiquei amigo de dois rapazes
que conheci justamente quando estavam em processo de separação. A princípio
fiquei mais amigo de um; o outro viajou para fora e demorou para nos falarmos
mais. Ficamos realmente próximos e nutro carinho pelos dois igualmente hoje em dia. Passei o
réveillon com um deles e com amigos deles. Já fomos à praia, cinema, festa,
almoçamos juntos e até participamos de um grupo de WhatsApp com diversos amigos
que ambos têm em comum.
Hoje em dia vejo fotos dos dois juntos e é estranho
imaginá-los como casal: por ainda viverem os primeiros meses pós-término, é
flagrante como saltam mais aos olhos as diferenças do que as afinidades entre
eles. E olha que costumo ouvir coisas boas quando um fala do outro. Porém, até
mesmo as atitudes simples parecem uma constante afirmação involuntária do
desapego.
Sim, infelizmente somos programados para imaginar que “ex bom
é ex morto”. Mas ainda é tempo de aprender que o que ocupa o lugar de um amor
não necessariamente é o ódio ou a repulsa. Aliás, nunca deveria ser assim. Podemos ocupar um
amor com outro, mais maduro e transformado. Ou amizade (que não deixa de ser um
tipo de amor). Ou ao menos a cordialidade que deveria ser inerente à nossa
espécie.
Porque, na verdade, ex bom é ex bem-resolvido. E uma bela história deve ter o seu lugar guardado no museu as boas lembranças.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor dos livros Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades e Perversão. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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