A rotina era a mesma de toda segunda-feira pela manhã.
Preguiçosa e arrastada. No meio daqueles rituais matinais (toma banho, toma
café, escova dente, etc...), minha irmã me liga:
“Ele vai nascer hoje. A médica decidiu que é melhor.”
Ele é o Samuel, meu segundo sobrinho e também afilhado. A gravidez
da minha irmã no geral foi tranquila, mas exigiu alguns cuidados maiores agora
no final. O parto estava previsto par alguns dias mais à frente, mas a médica
optou por adiantar para não desencadear os riscos que vinham evitando.
Quando entrei para o Barba Feita, minha primeira sobrinha,
Manuela, já havia nascido. Lembro-me do exato momento que vi sua foto pela
primeira vez (eu não pude acompanhar o nascimento de perto, estava no
trabalho). Lembro-me quando a peguei no colo pela primeira vez e senti o seu
cheiro: era exatamente o mesmo da mãe dela, que eu identifico desde que me
conheço por gente. Lembro-me dos traços que a genética nos fez ter em comum e
que o tempo fazia aflorar cada vez mais. Lembro-me de ter refletido
verdadeiramente pela primeira vez a respeito da concepção de um novo ser: como
era fantástico haver, de repente, mais uma pessoa com parte do meu DNA no
mundo; mais uma pessoa com o sobrenome Brazão Sobral.
Samuel já veio sem toda essa mágica da primeira vez. Mas com
a mesma expectativa. Manuela sempre disse que ele seria menino, antes mesmo da
confirmação. E ainda lhe deu um apelido que, embora não tenha nada a ver com o
nome (que demorou a ser escolhido), certamente vai ser disseminado na família:
Bibo. Sabíamos pelo ultrassom que ele era bochechudo e cabeludo. Provavelmente,
terá olhos claros como os pais e a irmã. Já sabemos que parece ser mais
quietinho que a Manuela (tendo em vista as primeiras horas de vida). Se terá o
mesmo cheiro ou não, ainda não sei; não o pude pegar no colo até o momento. Porém,
certamente saberei quando tivermos nosso primeiro contato.
Independentemente do que ele já traz com ele e é da sua
natureza, Samuel chega num mundo tão duro quanto o que a sua irmã aterrissou
três anos atrás. Mas por ser homem, há um desafio ainda maior. Recordo-me de
ler um texto do meu cunhado no Facebook, comemorando o aniversário dele (que é
três dias antes do seu filho – lamento informar, mas você vai perder todas as
suas comemorações pelos próximos anos da sua vida...) e dizendo que seria uma
grande missão não deixar que o Samuel se torne tudo aquilo que ele busca
combater nos outros homens, em especial seus alunos. Como criar um cidadão que
não seja machista, misógino, autoritário e intolerante? É uma baita
responsabilidade.
Aproveitando para uma conversa aqui de família: meu cunhado
é um cara incrível. Conheço o rapaz desde os 15 anos de idade e sei um bocado
sobre ele por esse motivo. Mas as qualidades que surgiram com o seu
amadurecimento só me orgulham de tê-lo com o companheiro da minha irmã. Juntos,
os dois, não tenho dúvida de que farão do Samuel uma pessoa melhor, um homem
tão tolerante e amável quanto o pai, e humano e benevolente como a mãe. E
certamente contarão com ajuda de toda a família, em especial dos tios e
padrinhos.
Não houve preço que me pagasse ver a felicidade da Manuela
quando ela soube que o irmão havia nascido. Eu estava bem ao lado; ela, já
cansada pela espera, havia se distraído no celular do tio Rafael. No exato
instante em que foi informada que o Bibo havia chegado, seu rosto se iluminou e
um dos sorrisos mais genuínos que vi na vida surgiu. Ela ficou encantada e
ainda sem muito entender quando mirou aquele pacotinho pequeno e pouco
interativo (talvez imaginasse que ele já sairia da barriga direto pra brincar
com ela de pique). Mas logo pediu um beijo do pai e perguntou pela mãe. A
família está se conhecendo ainda; porém, sem dúvida, já são uma bela família.
Meu ano de 2014 começou com o nascimento da Manu e foi um
dos melhores anos da minha vida – se não o melhor. Tomara que Samuel traga
esses bons ventos também para 2017.
Bem-vindo, meu sobrinho! E obrigado por
tudo desde já!
Leia Também:
![]() |
|
Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor dos livros Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades e Perversão. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
|
|
![]() ![]() |
Nenhum comentário:
Postar um comentário