Quem me acompanha sabe que sou um
medroso nato. Muitos medos, como o de
anões, por exemplo, já consegui superar, às custas de muitas consultas na minha
amada terapeuta. Mas viajar de avião
ainda é um suplício para mim. Não tem
jeito: aquele monstro de 150 toneladas, na minha cabeça, não tem como
voar. E, volta e meia, os pesadelos
voltam a me assombrar. Na coluna de
hoje, vou recontar uma história que está no meu livro Troco a Bituca Por Duas Jujubas e que mostra o embrião de todo o pavor das alturas.
Gargalhei sozinho depois que me
vi em uma cena do filme Meu Passado Me Condena, em que o personagem do Fábio
Porchat está morrendo de medo de o navio afundar. Ele põe um salva-vidas e fica
mais apavorado quando avista um artista a bordo.
“Detesto viajar com pessoas conhecidas, pois se acontece algum acidente, a mídia só vai divulgar a morte dele enquanto que nós, desconhecidos, seremos enterrados como indigentes.”
Eu, neurótico, pensei EXATAMENTE
isso quando, décadas atrás, tive uma das piores experiências viajando de avião e que, provavelmente, foi o estopim para que eu iniciasse o eterno terror que
possuo em voar.
Estava vindo de Blumenau para o
Rio em um modelo Brasília, quando fomos atingidos por uma tempestade no Paraná.
Foi uma das maiores turbulências que já vivi, com direito a queda livre,
sacolejos grau oito na escala Richter, máscaras de oxigênio despencando e
aeromoça mais histérica do que uma personagem de Woody Allen. E quem viajava
comigo, exatamente atrás de mim? Rodrigo Santoro.
Na época ele era bem novinho,
tinha o cabelo comprido e estava fazendo, ou tinha acabado de fazer, uma novela
na qual era apaixonado pela Renée de Vielmond. A novela tinha a polêmica da
formação de um casal nada convencional: ele, um moleque; ela, uma senhora.
Enxuta, mas com idade para ser a sua mãe.
Naqueles momentos de terror eu só
pensava nas manchetes dos jornais: “Ator com futuro promissor morre em acidente
aéreo”. E eu? Quem daria importância ao meu corpo espatifado? Lembro que entre
as ânsias de vômito naquela montanha russa ao léu, peguei minha identidade e
coloquei dentro do meu sapato... “pelo menos, se eu for pulverizado, vão encontrar
meu pé por aí, pois eu não quero ser enterrado como indigente”.
Ao chegar ao Santos Dumont,
salvo, mas não mais tão “são”, quase beijei o chão, que nem o antigo Papa, e
prometi que, se um dia o Faustão preparasse um Arquivo Confidencial com o
Santoro, eu estaria lá contando a história; mas o Porchat adiantou a minha
surpresa. #xatiado
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