Essa quarta-feira completa exatamente um ano que operei de uma apendicite. Tudo bem, acho que vocês não aguentam mais eu falando nesse assunto
aqui, como se fosse um big deal e tal. Mas
realmente foi um momento bastante peculiar da minha vida. É duro você estar
sozinho em um hospital e achar que tem uma virose e, de repente, ser avisado de
que terá que operar no mesmo dia, caso contrário pode morrer. Pode não, vai
morrer. Tudo isso num dia em que a sua prima está sendo enterrada, depois de também
ter ido parar em um hospital com uma emergência.
Lembro-me que tudo o que eu queria era que me operassem logo
e abreviassem aquela agonia. A dor ia aumentando e eu tinha muitas tremedeiras, embora eu já estivesse sendo
medicado. A outra opção seria bater as botas; então que tal abrir minha barriga
o mais rápido possível? Minha lembrança era de encarar tudo com bom humor...
Menos de três meses antes, havia feito oura cirurgia com anestesia geral, no
nariz. Essa sim, por opção – eu poderia viver o resto da vida com o septo nasal
desviado; mesmo com menos qualidade de vida, não morreria disso. Não me
arrependo, inclusive indico para quem em dúvidas. Mas foi uma opção. A
apendicite, não.
Lembro-me também da equipe hospitalar tentando
me manter calmo durante todo o tempo. A enfermeira que me levou até a porta do
centro cirúrgico, disse um “vai dar tudo certo!” e ficou me olhando até a porta
se fechar, não antes sem dar um tchauzinho e um sorriso. Também quando acordei,
com irritação na garganta por causa do tubo, e passei a noite
inteira cheia de muco e tossindo, cheio de pontos e dor na barriga. Tinha baixa
saturação de oxigênio. Uma enfermeira vinha a todo o momento no meu quarto e
dava toda a atenção. E ela não sossegou enquanto a oxigenação não melhorou;
sentia que o meu problema era o problema dela. E ela nem sabia quem eu era.
Ainda vieram as mensagens dos amigos depois. Engraçado como
na hora do aperto, realmente notamos como somos queridos. Desde o chefe que
veio acompanhar a sua cirurgia no hospital até as inúmeras pessoas querendo
saber como você estava; a amiga sumida que de repente te manda uma mensagem no
celular de madrugada pra saber se você estava bem, porque tinha pressentido
algo contigo (e nem sabia ainda da sua cirurgia); os amigos que, quando você
precisou de companhia porque iria ficar sozinho em casa, foram até lá cuidar de
você.
Tive muitas restrições; não pude aproveitar nada do
carnaval, não pude aproveitar praia ou cachoeira mesmo num verão no Rio de
Janeiro, tive que evitar comer um monte de coisas, não podia pegar sol, não
podia correr, não podia pedalar, não podia me exercitar, não podia fazer sexo, não podia tocar
percussão, não podia passear com os cachorros, não podia limpar as coisas em
casa, não podia pegar minha sobrinha no colo. Tantos “não podia”. Mas eu podia
escrever e foi o que eu fiz na maior parte do tempo. Tive outras coisas boas
também, como a atenção da minha família (adoro quando meus pais dormem na minha
casa!) e do meu companheiro. Ele foi genial em cuidar de mim e me aturar cheio
de limitações.
Falando em companheiro, curioso que o dia 18 de janeiro é o
aniversário do meu primeiro namorado (consequentemente, primeiro ex-namorado
também). Não, não acho que foi praga nem má energia dele não... Terminamos
relativamente bem e hoje em dia temos uma relação bem cordial até, talvez a
melhor que tenho com os meus ex. Ele é um cara bem sucedido e alcançou boa
parte daquilo que almejava quando tínhamos nossos 17 e 18 anos. Erramos muito
na nossa relação, que foi curta, porém intensa. Mas sou muito grato a ele por
muitas coisas; a maior delas, a de – embora ter sido apenas a terceira boca que
eu havia beijado na vida – me provar que eu poderia, sim, nutrir afeto e ser feliz com
alguém do mesmo sexo.
Não chegamos a passar seu aniversário juntos. Nosso romance
não durou a ponto de chegar à data. Mas hoje certamente desejo a ele o melhor
da vida, pois ele me apresentou a uma possibilidade que me trouxe boa parte do
que é o melhor na minha vida. E que, curiosamente, me fez enfrentar melhor toda
a apreensão e a recuperação dessa cirurgia que acabei fazendo quase 15 anos
depois de conhecê-lo: ter alguém ao meu lado para viver as delícias e as
dificuldades juntos.
Esse dia 18 tem, definitivamente, a sua marca na minha história.
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Paulo Henrique Brazão, nosso colunista oficial das quartas-feiras, é niteroiense, jornalista e autor dos livros Desilusões, Devaneios e Outras Sentimentalidades e Perversão. Recém chegado à casa dos 30 anos, não abre mão de uma boa conversa e da companhia dos bons amigos.
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Um comentário:
O que importa é que você conseguiu, superou e deu tudo certo!
http://desde-1991.blogspot.com.br/
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