Em todas as minhas férias sempre
dou um jeitinho de sumir do mapa. Mesmo
com o pavor que é minha marca registrada, entro em um avião e escolho um
destino. Férias só são férias se eu
entrar num bichão desses de tantas toneladas e (re)descobrir o que o mundão nos
oferece. Nas próximas colunas estarei relatando
um pouco do que foram as minhas férias que terminam nesta sexta-feira (sim, já
estou com depressão pós-férias) e dando algumas dicas imperdíveis.
Mas hoje, a coluna é como uma
espécie de prólogo. Resolvi falar um
pouquinho de algo que as pessoas não se ligam muito quando vão viajar e, garanto
pra vocês que se vocês começarem a exercitar isso, terão férias inesquecíveis.
Todo mundo aqui já sabe que eu
sou apaixonado por música. Toda vez que
eu me programo para viajar, monto uma trilha sonora para as férias. Algumas cidades já estão com algumas canções
encrustadas em sua paisagem como por exemplo, Música Urbana, quando piso em Brasília: “as ruas tem cheiro de gasolina e óleo diesel
/ por toda a plataforma / você não vê a torre”.
Outra canção que remete à capital é a homônima Brasília, da Plebe Rude...
“Brasília tem centros comerciais / Muitos porteiros e pessoas normais / As
luzes iluminam os carros só passam / A morte traz vida e as baratas se arrastam
/ Os prédios se habitam as máquinas param / As árvores enfeitam e a polícia
controla”. Já em Curitiba, a minha cabeça
não para de rodar Cold, dos britânicos do The Cure, e por aí vai.
Mas o engraçado foi que, nessas
últimas férias, especificamente, eu deixei para fazer a trilha sonora quando
chegasse lá. E foi bem divertido. A minha jukebox mental* ficou sintonizada
no ambiente. Na minha segunda parada das
férias, em São Paulo, quando fui lançar o meu livro Troco a bituca por duas
jujubas, ouvi uma antiga canção do Guilherme Arantes no caminho para o hotel,
dentro do táxi. A canção era Cuide-se
bem, do álbum de estreia do compositor paulista, gravada em 1976. Não há como esquecer aquela melodia
assobiável totalmente progressiva a la Yes e Emerson, Lake and Palmer atrás da
letra bobinha “Cuide-se bem /perigos há por toda a parte / e é bem delicado
viver de uma forma ou de outra / é uma arte como tudo / cuide-se bem, tem mil
surpresas a espreitar / em cada esquina mal iluminada, em cada rua estreita /
em cada rua estreita do mundo” até chegar naquele refrão que ao mesmo tempo é
pungente e solar “pra nunca perder esse riso largo / e essa simpatia estampada
no rosto” (ouça aqui - http://bit.ly/1dW91Fv).
Quando cheguei ao hotel, fui
buscar na internet esse álbum que infelizmente está esquecido lá na memória da
música. E esse disco acabou se transformando na trilha sonora da maioria dos
locais que estive em São Paulo. É neste
disco que tem a clássica e inesquecível Meu mundo e nada mais, revelando que
ele já chegou “botando banca” mesmo. Narrada
em primeira pessoa, conta sobre as decepções, sofrimentos, depressão e as
mudanças de determinados conceitos. “(...)
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto / à meia-noite, à meia luz / sonhando!
Daria tudo por meu mundo e nada mais (...)". Maravilhosa!
O álbum, que foi remasterizado em
2010 para CD, é uma relíquia. O disco
abre também com a ótima A Cidade e a
Neblina: “Na neblina a cidade amanheceu / Sonolenta como os últimos
boêmios / E os primeiros trabalhadores matinais / Com seus gorros, capotões e
cachecóis / A neblina dá uma certa imprecisão / A paisagem fica sem definição /
As capelas e os velhos casarões / Na neblina ficam sobrenaturais / Qual, qual
de vocês não acha belo / Quando ela desce / Quando ela deixa tudo translúcido?”...
Ah, coisa “marlinda”! (Ouça aqui - http://bit.ly/2r4cusk).
Bem, não quero me antecipar aos
próximos textos do Barba Feita, quando vou apresentar algumas canções nos
textos, mas tinha que mostrar aqui nesta coluna a minha paixão pelo Guilherme
Arantes, que está aí até hoje na ativa, influenciando talentos contemporâneos
como o capixaba Silva.
Infelizmente, a população não
valoriza muito seus artistas. Quando se
vão dessa, como aconteceu recentemente com Jerry Adriani, Belchior e Almir
Guineto, todo mundo vira fã e lamenta.
Então, procurem esse disco e
ouçam. É uma grande crônica sobre a
cidade. E, se forem viajar, busquem fazer
suas trilhas. Garanto que, além das
fotos registradas, a música terá sempre uma participação especialíssima.
* termo utilizado várias vezes no
(sensacional) romance Quem vai ficar com Morrissey, de Leandro Leal.
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