Em setembro do ano passado, quando
lancei o meu primeiro livro Troco a bituca por duas jujubas, nem esperava que
as pessoas curtiriam tanto assim, pois em muitos contos existem particularidades,
como uma autobiografia. Afinal, quem se
interessaria por aquelas memórias? Lembrei
do clássico Moby Dick, de Herman Melville: na primeira tiragem, ele só vendeu
vinte cópias, vejam só!
Desde então, já foram realizados
três eventos no Rio de Janeiro para divulgar o livro, sempre muito
bacanas. As jujubas venderam mais que a
primeira edição de Moby Dick e eu estava feliz demais por isso. Mas a coisa mais legal em uma noite de
autógrafos, além de poder abraçar os amigos com tanta energia positiva, é
vê-los levar uma parte sua para casa...
É engraçada essa sensação: estranha e ao mesmo tempo, de alívio e
felicidade.
Uma vez, o amigo Larry Antha - um
dos ícones do movimento underground das bandas cariocas e vocalista da lendária
Sex Noise – me disse que ao lançar um livro (ele já tem quatro) é como se
estivéssemos saindo de uma sessão de exorcismo.
Quando publicamos, as coisas boas que nos trazem felicidade e até os
demônios nos deixam. A partir do momento
que outra pessoa leva o seu livro, a história não é mais sua, mas sim, do
mundo. E é aí que começa o medo. Nos livramos de fantasmas, mas outros
aproveitam o espaço vago e residem dentro do escritor. “Mas se as pessoas não gostarem?”
Nesta sexta, o Troco a bituca por duas jujubas será lançado em São Paulo, cidade onde o movimento cultural
ferve o tempo inteiro. E só por chegar
até aqui, já acho que valeu à pena. E
esse lançamento, na terra da garoa, vai ser acompanhado pelo outro Barba: o
querido amigo Paulo Henrique Brazão, que
vai estar apresentando aos paulistas o seu Perversão e o Desilusões,
devaneios e outras sentimentalidades.
Certamente, a ansiedade e a angústia devem estar o atormentando nesse
momento também.
No prólogo do livro, eu digo que
escrever dói. E que gostaria de traduzir
o intraduzível de uma canção dos Cocteau Twins; um neologismo de Guimarães
Rosa; o sofrimento das faíscas e lascas como aço espelhado de Clarice Lispector
ou como tão bem Pablo Neruda simplificou, “poder começar com uma maiúscula e
terminar com um ponto".
No fim da tarde de quinta feira,
horas depois de ter desembarcado em São Paulo, recebi uma ligação. Do outro lado da linha, a simpática Inês, a
faz-tudo da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, que produz livros lindíssimos,
feitos à mão, num processo que pode levar meses e meses... Se você ainda não conhece, procure saber um
pouco mais sobre eles na internet. Ela
me ligou para me dar a grata surpresa em dizer que estava com meu livro em suas
mãos. E que estava se emocionando demais
com ele. Citou a linguagem simples, a pungência
de alguns contos, pela comédia de outros e pela belíssima capa. E o que mais me surpreendeu foi saber que ela
estava em sua cadeira preferida na sede da Confraria, em Brasília, lendo três
livros. E um deles, era de Guimarães
Rosa. Me telefonou para me agradecer e dizer
que parou de ler momentaneamente o livro do mestre para pegar o Jujubas. E que não conseguiu parar mais.
Sei que pode parecer uma coisa de
ego insuflado, mas aquelas palavras me deixaram extremamente feliz. A Dona Inês, que produz livros ao lado do
marido Salles, o criador da Confraria, que já lançou tantos clássicos imortais,
ali, se deliciando em sua cadeira preferida com memórias inspiradas em David
Bowie e a cultura pop dos anos 1980 e 1990.
Não pude deixar de lembrar do
camaleão da música pop: sim, todos nós podemos ser heróis, mesmo que por um
único dia.
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