Um dos destinos mais badalados de
Natal, Pipa, na verdade é um conglomerado de praias que pertence ao município
de Tibau do Sul, cerca de 45 km de Natal.
O local tem esse nome devido a um imenso morro (Pedra do Moleque) que os
navegadores portugueses, ao avistarem de longe, assemelhavam-no a um barril de
cachaça (ou seja, pipa, em terras lusitanas).
O local é incrível e é
considerado uma das praias mais belas do Brasil. As principais praias de lá são a Praia do
Amor, que é chamada assim devido ao formato em que as ondas quebram na areia
(como se fosse um imenso coração); a Baía dos Golfinhos, onde dizem que os
mamíferos dão sempre uma passadinha por lá (eu não vi nenhum, pra dizer a
verdade...); a Praia de São Sebastião, que está sempre com maré baixinha,
repleta de piscinas naturais; a Praia do Madeiro; e a Praia das Cacimbinhas
(estas duas mais apropriadas para quem curte surf, kitesurf e parapente, por
causa das ondas e os bons ventos). O
acesso às praias se dá através de umas escadarias gigaaaaaantes, mas não tão
complexas como algumas em Fernando de Noronha.
No fim, vale o esforço. Há várias
opções de hotéis e pousadas em Pipa e o ideal é que o turista possa pernoitar
por lá para aproveitar mais, já que existem centenas de restaurantes, boates,
culinária francesa, italiana, portuguesa, japonesa, tailandesa... enfim, uma
delícia para quem curte uma bela farra gastronômica. Fazendo uma comparação com outros locais
misturando praia e gastronomia, Pipa lembra um pouco o clima de Búzios (RJ) e
Jericoacoara (CE).
Mas o que eu mais curti em Pipa é
a deslumbrante vista do famoso chapadão entre as praias do Madeiro e do
Amor. Esse chapadão é uma espécie de
cânion / falésia imensa. Lá eu fiquei
uns bons minutos meditando e observando aquele horizonte sem fim... “de tarde
quero descansar... chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte... vai
ser bom subir nas pedras. Sei que faço
isso pra esquecer. Eu deixo a onda me
acertar e o vento vai levando tudo embora!”.
Apesar da singeleza (e tristeza) da canção da Legião, Vento no Litoral (ouça aqui) ficou ali, tocando na minha jukebox mental, como uma forma de agradecimento
por poder vislumbrar tamanha imensidão.
E lá me dei conta do quanto somos pequenos perante todo o mundo. Pode parecer um papo dos adeptos de Sana, mas
lembrei de um texto onde um físico explicava a dimensão de todo o universo: ele comparou a Terra como um pequeno grão de
areia. E pediu para que imaginássemos
todas as praias existentes no planeta de onde retiraríamos somente um
grãozinho. Este grãozinho seria a Terra
azul. E ao seu redor, todo o infinito
universal. Sei que chega uma hora em que
até nos perdemos com as comparações, mas naquele momento, ali, naquele meu
microcosmo e no meu infinito particular, eu fui feliz.
Em um outro momento, também
vivenciei um misto de felicidade, medo e superação em Natal. Todo mundo sabe que eu tenho pavor de aviões... Mas tem outra coisa que me deixa apavorado: barcos e lanchas. E no último dia em que estivemos em Natal, fomos
a dois locais maravilhosos: Punaú e Perobas.
Punaú fica a aproximadamente 65
km de Natal e é um lugar paradisíaco, cheio de dunas, coqueiros e onde há um
encontro das águas do rio e do mar, com água cristalina que não passa da sua
canela. Perto dali, há uma praia de
pescadores chamada Pititinga, um reduto de pescadores, onde podemos saborear
algumas coisas exóticas como o pastel de arraia. Punaú é um lugar para relaxar. Já Perobas é pra quem curte uma
aventura. Na verdade, a praia não tem
nada demais... é bem simples. A parte
mais bacana de Perobas não fica ali, mas sim a cerca de 8 km mar adentro. Para chegar lá tem que ir de lancha. E aí começou meu drama. A última vez que resolvi entrar numa
embarcação tinha sido em Buenos Aires, quando resolvi ir até Colônia do
Sacramento, no Uruguai, de barco, que se tornou uma das viagens mais
apavorantes da minha vida, pois embarcações e mar agitado não combinam.
Não sei se era o vento o culpado,
mas a sensação que eu tive ao pegar a lancha era novamente aquele estado de
pequenez. O mar era gigante demais
enquanto eu era somente um grãozinho de areia.
Foram 30 minutos mar adentro rezando para santos que eu até nem sabia
que existiam. Mas assim como uma neblina
que se dissipa aos fortes raios solares, de repente a lancha parou e ainda sem
conseguir abrir totalmente os olhos por causa do meu rosto encharcado, fui
surpreendido por uma das paisagens mais lindas que já vi. Estávamos no meio do oceano, sem ver alguma
faixa de areia por um ângulo de 360º.
Descemos da lancha com água transparente e morna um pouco acima dos
joelhos. Um Caribe.
Quando estávamos nos preparando
para sairmos dali, o medo já havia dissipado.
Eu estava praticamente no meio do oceano e não senti mais temor. Me senti orgulhoso de mim mesmo. Estava vencendo mais uma etapa. Enquanto voltávamos para o ponto de partida
eu jurava estar ouvindo uma de minhas canções favoritas que parecia tocar em um
dial sendo sintonizado (ouça aqui): “todos ao mar outra vez / e agora os
meus furacões fizeram desabar essa chuva oceânica / para me banhar outra vez /
o meu navio velejando / você pode ouvir seu frágil casco / gritando sob as
ondas? / Todas as mãos no convés ao
crepúsculo / navegando para portos mais tristes / seu porto nas minhas fortes tempestades
/ abriga os meus mais sombrios pensamentos”.
Natal me encantou. Além do reencontro com minhas origens, Natal
me fez repensar tantas e tantas coisas... Ver aquela gente simples, com a pele
tostada pelo sol, com o sotaque encantador e o sorriso estampado no rosto,
percebi que precisamos de muito pouco para sermos felizes. No caminho de volta para o hotel, antes de
arrumarmos as malas para voltarmos para o Rio na manhã seguinte, a guia Jana,
que se tornou uma figura indispensável na viagem, apontou para uma pequena
casa, bem pobrezinha no meio do nada e disse: “estão vendo aquela casa ali,
adiante? Pois então, ela tem características
barrocas e góticas”. Eu olhei novamente
e não encontrando nenhuma menção aos estilos artístico-arquitetônicos,
questionei: “mas onde você está vendo
isso?”.
“Você não está vendo os estilos
barrocos e góticos? Ela é toda feita de
barro e o telhado, todo furado. Quando
chove, no meio desse sertão, é goteira pra tudo que é lado! É muita felicidade!”
E aí tenho certeza de que
precisamos de muito pouco para sermos felizes.
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Um comentário:
Muito maneiras as sua aventuras em Natal! Deu vontade de conhecer os lugares!
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