Eu sempre quis ter uma banda. Quando pequeno, me via na icônica capa do Sgt.
Peppers, dos Beatles, que anos mais tarde também vim saber que era uma banda
imaginária criada pelo quarteto fantástico de Liverpool. Aos sete
ou oito anos, ficava fascinado por aquele contraste do amarelo e vermelho, do
encarte multicolorido e da quantidade de personagens daquela capa sensacional
na qual não conseguia identificar ninguém de imediato, mas imaginava que eram
fãs reverenciando os seus ídolos, mas como se estivessem no mesmo palco,
participando de uma grande celebração.
Sgt. Peppers foi, talvez, o meu primeiro
encontro com a música. Depois me
apaixonei por Queen. Queria ser Freddie
Mercury e comandar a platéia. Quis ser
também Robert Smith e me esconder atrás dos cabelos desgrenhados, do delineador
negro e da maquiagem borrada. Aquele “disco
do velho na capa” do The Cure tocava noite e dia. E tal qual um campeão do programa Qual é a Música?, do Silvio Santos, conseguia identificar na primeira nota qualquer
canção aleatória daquele álbum.
Quase que paralelamente, o jeitão
gótico de Siouxsie me deixou apaixonado.
E aquele modo classudão de Ian McCulloch, do Echo and the Bunnymen, cantar
segurando no pedestal, com os lábios tocando no microfone, completamente
coberto pela névoa de seu Marlboro e de olhos fechados, me arrebatou. Um dia eu montaria uma banda só para cantar
que nem ele, que já tinha sido inspirado por Lou Reed, do Velvet Underground,
Jim Morrisson, do The Doors e, obviamente, pelo mestre dos mestres, David Bowie.
Ver uma banda em cima de um
palco era, para mim, uma sensação de estar vislumbrando um deus mitológico. Era como se fossem seres inanimados que, por
algum milagre, eram projetados ali na minha frente. Quando vi os Bunnymen pela primeira vez,
chorei. Quando vi pela oitava, chorei da
mesma forma. Chorei quando vi Ramones,
chorei quando vi Kraftwerk, chorei quando vi Prince, chorei quando vi REM,
chorei quando vi The Cure, quando vi Radiohead...
Mas, mesmo com todos aqueles
deuses do Olimpo que se apresentavam de forma quase holográfica, foi vendo os
cariocas do Second Come em um showzinho simples no DCE na Universidade Federal
Fluminense, em Niterói, que definitivamente eu afirmei para mim mesmo que um
dia montaria uma banda. Por causa do
Second Come e dos Bunnymen nasceu o Soft & Mirabels. E para mostrar para essa garotada que os anos
90 foram tão foda quanto os 80´s, também nasceu o OverEnd. Duas bandas que me divirto muito em poder
estar cantando, despretensiosamente, mas com aquele mix de McCulloch, Bowie,
Freddie, Lou, Jim, Robert, Sioux, Morrissey, Astbury, Stipe, Yorke, Kraus e
Leopoldino.
Ah, hoje vai ter Arcade Fire à
noite. E vou chorar um litro. Os canadenses são uma banda contemporânea que
fazem parte daquele meu imaginário mitológico.
Tenho certeza que, quando eles invadirem o palco enfumaçado e repleto de
luzes, meus olhos vão brilhar e lágrimas vão rolar. E, como combustível, neste sábado vai rolar o
primeiro pocket show (na verdade um ensaio aberto), da OverEnd. Só que dessa vez, esperando que alguém da
platéia se emocione e siga o caminho de querer montar uma banda também.
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Um comentário:
Por tudo mais, dessa uma década que nos conhecemos, e de todas as coisas boas que você me apresentou e me ensinou, logo eu, um "axezeiro", me render (e até gostar) de algumas (só algumas!!!!) bandas de rock underground, incluo na lista de agradecimentos os Bunnyman e agora o Arcade Fire. Ah, entende agora porque "colo" o microfone na boca quando vou ao karaokê? Kkkkkk influência pura do Yan!!!! Beijos carregados de ohhh yeahhh
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