
“...Menino, acorda e vem olhar
O sol não tarda em levantar...
Outros outubros tu verás
E outubros guardam histórias...”
Esse fragmento da música Círios, de Vital Lima, traduz em quatro estrofes 38 outubros da minha vida. Apesar de idolatrar julho, o mês em que nasci (sou muuuuito leonino!), cheguei à conclusão na última semana que os fatos que mais marcaram a minha vida, e divisores de muitas águas, ocorreram nos meses de outubro. Resolvi, então, nesta primeira terça-feira de novembro, fazer um breve retrospecto dessa trajetória.
Era 29 de outubro de 1993, quando, aos meus 13 anos, acordei para viver o pior dia da minha vida. Minha mãe (genitora) acordara por volta das 5 da manhã para passar roupas para o meu irmão mais velho trabalhar quando, sem esperar, começou a sentir fortíssimas dores na cabeça. Em questão de minutos ela estava caída no chão com a língua enrolada, principiando um derrame cerebral. Amigos auxiliaram a levá-la ao hospital, em uma cena que não sai da minha cabeça até hoje. Cerca de 2 horas depois, lembro do vizinho que a levou entrar no quintal da minha antiga casa com um semblante pesado de tristeza. Era o anúncio de sua morte. Minha mãe tinha apenas 43 anos. Vivia uma relação instável com meu pai e por essa razão ela era a provedora de seus quatro filhos. Meu irmão mais novo tinha 6 anos. Resumindo, meu pai desapareceu de vez no dia de sua missa de sétimo dia, e eu e meu irmão passamos pouco mais de uma semana abandonados, inclusive sem comida. Nos últimos dois dias de abandono, nosso jantar era uma “farofa doce”, onde os ingredientes eram os últimos que existiam em nosso armário: óleo velho de frituras anteriores, farinha de mandioca e um resto de açúcar. Dias depois, fui resgatado por minha madrinha, irmã da minha mãe, e hoje a maior referência, para mim, de ser humano.