Desde a semana passada, os dias tem sido
recheados de assuntos bombásticos:
primeiro foi a desclassificação da seleção brasileira (se bem que nem
podemos chamar esse fato de bombástico, já que tudo era bastante previsível,
né?), e depois o país voltou a falar sobre política com a “libertação” do
ex-presidente Lula através de um habeas corpus concedido por um desembargador
do tribunal de segunda instância. Essa
historinha, em pleno horário de almoço de domingo, provocou a ira de Sérgio Moro
que, mesmo estando de férias, e sendo o responsável pelo processo na primeira
instância, ligou para o relator do caso, e o mesmo suspendeu a decisão. O bafafá rolou por horas e, na queda de braço,
a decisão da primeira instância sobrepôs a da segunda, fato polêmico (e até
então inédito, pelo que saiba) no meio jurídico.
A semana também foi agraciada com o final feliz
para a história dos meninos tailandeses que estavam presos dentro de uma
caverna. O mundo todo acompanhou o
drama do time de futebol infanto-juvenil e do resgate, quase uma missão
impossível e que, certamente, vai virar livro, filme etc e tal. É esperar pra ver.
Também teve (mais um) mico de Marcelo Crivella,
que transformou sua assessora pessoal em meme na internet. “Fala com a Márcia” viralizou devido a um
comentário do bispo-prefeito em uma reunião com líderes religiosos e pastores
evangélicos, numa clara alusão de oferecer ajuda e “furar a fila” do sistema de
regulação de vagas para cirurgias de catarata.
Mas a paradinha que mais “bombou” no sentido
real da coisa foi realmente o tal beijo gay de Nego do Borel. O cantor, travestido de sua antiga personagem
Nega da Borelli, lasca um beijo (muito chinfrim, por sinal) em um modelo no
clipe de Me Solta, gravado em uma comunidade tijucana, dividindo opiniões nas
redes.
Eu nunca gostei de Nego do Borel. Posso até admirar a trajetória meteórica do
cantor de funk (podemos chamá-lo assim?) alcançou, mas só. Obviamente já ouvi em algum churrasco ou
festinha de aniversário as suas músicas, que esqueci dois minutos depois que
terminaram. Música pop inofensiva e
descartável, que não me incomoda em nada.
O que me incomoda é que não sei quem é Nego do Borel. O que pensa?
Ele é um enigma, um ser incógnito que parece estar interpretando um
personagem o tempo inteiro. Nega da
Borelli é um personagem dentro de um personagem e, por isso, se torna ainda mais
vazio. Até atuando (lembro de tê-lo
visto em alguma temporada de Malhação) e ainda assim parecia ser... Nego do
Borel.
Mas em relação ao vídeo, muitos defenderam o
cantor, afirmando que ele representou muito bem os homossexuais. Outro grupo o acusou de oportunista. Eu não acho nem uma coisa nem outra. Aquele personagem (a “Nega”) nunca
representaria os homossexuais, pois é nitidamente satírico e estereotipado. Como bem resumiu o (sempre ótimo) Spartakus
Santiago, “a bicha preta afeminada sempre
foi motivo de piada. Se vestir de bicha
preta e fazer mais piada ainda não é representatividade e nem empoderamento. Empoderamento é colocar quem sempre foi
silenciado numa situação de poder, de respeito.
Empoderamento é ver Liniker e Linn da Quebrada fazendo turnê pela Europa”, declarou o publicitário.
Justamente por ser algo tão infeliz, não acho
que é oportunista. Não vejo que esse exemplo
da piada sem graça seja um motivo para preocupação com a monetização da
apropriação da causa LGBT, o tão debatido “pink money”.
Minha única preocupação - ao analisarmos que
este terreno tão minado e onde tanta gente ainda morre diariamente por motivos tão
babacas movidos pela intolerância - é o jogo perigoso que pode virar segregação
a partir dessas piadinhas disfarçadas de atos ingênuos.
Ah, se liga, o Barba Feita agora está no Instagram!
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