Sempre fui um otimista de
carteirinha. Vivi aquelas tenebrosas
épocas de hiperinflação totalmente fora do controle. Lembro que naquele período a inflação chegou
a ultrapassar 80% ao mês (é... não era ao ano não... era ao mês mesmo). Nos supermercados, o que você comprava pela
manhã tinha um valor reajustado à tarde, assim como as contas bancárias. De um dia para o outro, o dinheiro dos
brasileiros perdia o valor. Inventaram o
tal congelamento dos preços e o que se viu foi o caos. Produtos desapareceram e havia racionamento
de produtos básicos. Mas sempre
acreditei que as coisas melhorariam.
Minha mãe me acordava às seis da
manhã e íamos para o mercadinho do bairro, com meus irmãos reclamando de sono,
para comprar comida. Lembro que
ficávamos horas na fila para poder comprar leite, carne, arroz e feijão. E isso não foi em nenhum período pós-guerra
não! Isso aconteceu nos anos 1980! Época de transição política com o fim da
ditadura e o retorno da democracia. Os
militares deixaram o país em um endividamento externo absurdo e o país afundava
com a elevação dos juros e a desvalorização da moeda devido aos empréstimos
realizados ao Fundo Monetário Internacional (o tão falado FMI). A consequência foi um monte de planos de
estabilização da economia (Cruzado, Bresser, Verão) e um período de moratória,
manchando a imagem do Brasil internacionalmente. Mas eu tinha a convicção que minha mãe
deixaria de me acordar às seis da manhã e que, em algum determinado momento,
tudo se resolveria.
Em uma década, mudamos cinco
vezes de moeda. Entre 1993 e 1994, a
inflação chegou a atingir 5.000% ao ano.
Tivemos que engolir a morte de Tancredo, o bigode pmdebista do vice
Sarney, o almofadinha Collor de Mello (e sua renúncia para não sofrer o
impeachment) e o topete pmdebista do vice Itamar Franco (já repararam que o
PMDB do “vice” Temer sempre entrou pelas beiradas?), FHC etc e tal. Aguentamos tanta coisa... Sempre fui um
otimista.
Reza a lenda que o pervertido imperador
Calígula nomeou seu cavalo Incitatus ao senado romano. O animal tinha 18 criados, usava colares de
pedras preciosas e dormia em trajes imperiais.
E quando eu vejo determinadas indicações vindas de nosso mais alto
posto, nem considero Calígula tão louco assim.
E confesso que isso me desanima, sabe?
É como se a nossa bateria fosse ficando cada vez mais fraca e
desgastada. Falta pouco menos de dois
meses para o primeiro turno das eleições e, na situação atual em que vivemos, a
perspectiva é péssima.
Alguém aí se lembra do icônico chimpanzé
temperamental do Zoo do RJ que atirava cocô nos visitantes e mostrava o pau
para as mulheres? O macaco Tião se
tornou popular quando, numa brincadeira do pessoal do Casseta & Planeta,
foi candidato a prefeito em 1988 (numa época em que ainda não havia urna
eletrônica) e recebeu mais de 400 mil votos, sendo o 3º mais bem colocado nos
resultados. Obviamente, estes números de
Tião eram resultado de um grande protesto.
E, atualmente, o que vemos é a mesma população revoltada buscando um novo
macaco Tião em meio a devaneios, candidatos histriônicos e grandes utopias.
Temos cavalos e temos
chimpanzés. E, infelizmente, a escolha
será péssima. Ou não. A bateria está acabando, mas sigo com 1% de
otimismo buscando por aí um recarregador.
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