Pouco tempo atrás, escrevi em minhas redes
sociais que considerava o povo brasileiro sem cultura. E fui atacado (para
variar) por algumas pessoas me esclarecendo que eu estava errado, puxando
minhas orelhas com as descrições técnicas da minha expressão. Mas dentro desse
contexto, e para que eu não sofra represálias - pelo menos nesse sentido -
esclareço que, cultura, resumidamente falando, significa um complexo
que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes
e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente
em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro.
Mas, não sou estudioso, nem cientista sobre a
maioria dos assuntos que escrevo. Sou um indivíduo que escreve sentimentos. Um
cidadão. Um ser humano com vontades e percepções próprias. Que podem ser
erradas ou equivocadas para uns, porém com um discurso objeto de identificação
para outros.
A minha forma de ver a cultura - na verdade, a
vida como um todo - é com o coração e desprendido de dogmas, que até são
importantes e necessários, mas não imprescindíveis para mim. É claro que nesse
cenário não se enquadram condutas condenáveis criminalmente, mas, moralmente
por vezes, a depender de quem ouve e lê minhas convicções. Isso é normal,
porque cada um tem as suas.
Mas, voltando sobre o assunto cultura, a minha
visão lírica continua sendo a mesma. O Brasil é um país sem cultura.
Se fizermos um paralelo utilizando algumas palavras da descrição técnica, que
meus conhecidos tanto martelaram em minha cabeça, aos poucos estamos perdendo
nossa história, nossa moral, nosso conhecimento, nossa arte e tudo aquilo que
construiu nossa tradição por meio desses registros históricos e
consuetudinários.
O capítulo mais recente e talvez um dos mais
dolorosos, escreveu-se no último domingo, 02 de setembro, com o incêndio no
Museu Nacional, da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Curiosamente, o
mesmo dia em que a princesa Leopoldina, em regência interina no lugar de seu esposo
D. Pedro, convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Estado em 1822 e,
juntamente com os ministros, decidiu pela separação definitiva entre Brasil e
Portugal, assinando então a Declaração de Independência, mas que ficou popularizada mesmo no dia 7 de setembro com o famoso “Grito do Ipiranga”, proclamado
por seu marido.
Mas essas minúcias não se aprendem na escola. Ou
quando sim, num an-passam quase imperceptível,
pois o mais importante é o feriadão da Independência. Não se faz um país sem
educação e sem apoio à cultura. E escola e cultura não são comércios, embora
muitas das vezes sejam tratados como tal. O “acidente” com o Museu Nacional é a
prova de falta de interesse do poder público para isso. Enquanto os estados e o
país apresentam dívidas imensuráveis dos cofres públicos, decorrentes de
corrupção e nossos líderes não deixam de votar os aumentos salariais e benefícios
para seu poderio, nossas universidades, hospitais e outros tantos museus,
afundam-se com descaso e abandono. Hoje nós perdemos feio para países
destroçados pela guerra, como Alemanha, Japão, Coreia e China. Eles se reergueram
por causa da educação e da real valorização de sua história e cultura e, por
isso, nos superaram em eficiência, tecnologia e avanços. Nossa estratégia envereda
por atrair jovens para escolas risonhas e francas pelo jocoso, por jogos que
desvalorizam nossa história, nunca mostrando a verdade: se você não estudar,
não ler, não aprender, vai ser pouco ou nada na vida, vai depender da sorte. E os países
acima não investiram na sorte, investiram na preparação séria, suada e
disciplinada.
E nós? Continuamos na mesma, enredados em acordos
ortográficos e outras firulas, que não agregam em nada. Falamos em reforma na
educação e nunca em uma revolução pela educação. Não se faz educação deixando
alunos sem aula, professores sem preparo e professores preparados sem
remuneração. Não se faz cultura e nem se perpetua seus conceitos, se não temos incentivo
e patrocínio para isso. Patrocínio este que deveria ser custeado em boa parte pelos
impostos caríssimos que pagamos. O que vemos na realidade são manobras infinitas de um
governo cancerígeno, em todas as suas esferas, para que tenhamos um acesso cada
vez mais limitado de informações e história. E isso é para que, futuramente,
quando estivermos imersos na lama do desconhecimento (e sem a tal cultura da
descrição técnica), eles estejam curtindo jantares com bandanas feitas de guardanapos
em países que pregaram por toda a sua história e, por isso, considerados
evoluídos e proporcionando uma vida de adequada qualidade para seus cidadãos, a
sua verdadeira cultura.
Ah, se liga, o Barba Feita agora está no Instagram!
Leia Também:
![]() |
|
Julio Britto: carioca, advogado, amante de telenovelas, samba e axé music. Ator nas horas vagas, fã de Nelson Rodrigues e tudo relacionado a cultura trash. É leonino de 29 de julho de 1980, por acaso, uma terça-feira, mesmo dia da semana colabora aqui no Barba Feita.
|
|
![]() ![]() |
A opinião dos colunistas não representa necessariamente a posição editorial do Barba Feita, sendo estes livres para se expressarem de acordo com suas ideologias e opiniões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário