
Em meio ao mar de lama que navegamos, tenho me sentido, muitas vezes, como participante de um reality show de convivência, daqueles bem bizarros, que em determinado momento as pessoas já não conseguem mais segurar o personagem e as máscaras caem. O problema é que não se trata de um reality e que o colega de trabalho, o vizinho, o porteiro, além dos tios e primos (e, às vezes, pais, mães e irmãos) que não conseguem mais viver o personagem não estão interessados em nenhum prêmio milionário. Não, não é isso; os fascistinhas que nos rodeiam querem apenas que você perca o que já conquistou.
Dei a sorte de crescer em um país livre que, apesar dos seus pesares, vinha experimentando uma onda de abertura e de conquistas que nos embalava. A festa, tão característica do nosso povo, era completa graças à nossa pluralidade e, com o avanço dos direitos de minorias conquistados, sendo estendida a todos. Com o crasso politicamente incorreto sendo banido, nos vimos iludidos de que as pessoas aceitavam as diferenças, afinal, era feio ser racista ou homofóbico e, quando alguém tentava ultrapassar essa barreira era imediatamente enquadrado pela sociedade e opinião pública. O que ninguém percebeu, entretanto, é que sob a superfície cordial de uma nação, era aquecido, em banho maria, um ódio absurdo pela felicidade alheia à volta de todos.