Acho que todos nós temos a mesma
impressão: de uns tempos pra cá, nossos dias parecem não ter mais 24 horas,
pois entre o raiar do sol e o anoitecer existe somente um simples piscar de
olhos. Esta sensação pode estar
relacionada aos nossos afazeres infindáveis, afinal, vivemos em uma rotina
atribulada, sem muito tempo para contemplarmos as coisas mais simples.
Já pararam para pensar que quando
éramos crianças, os nossos dias eram muito mais longos? Acordávamos, íamos para o colégio e tínhamos
as tardes livres para estudar, brincar, assistir TV e ainda dava tempo de tirar
uma soneca antes da janta. Torcíamos
muito para que o mês de dezembro chegasse para comemorarmos o Natal. No meu caso, dezembro ainda era o mês do
aniversário, então tinha torcida dupla.
Eu ficava super ansioso para que o ano terminasse. E quando a data chegava, o intervalo até o
próximo aniversário e Natal era tão longínquo quanto uma viagem para Marte.
Outro dia estava lendo um artigo
que explicava um pouco sobre esse mesmo questionamento. Na verdade, os dias estão ficando mais longos
por causa de uma ação gravitacional da Lua e do Sol, que influencia o movimento
das marés e desacelera a rotação terrestre.
Claro que é algo imperceptível – coisa de milissegundos. Portanto, nada mudou desde que éramos
crianças. Os dias e as noites continuam
sendo os mesmos.
E, aí, durante o artigo, fiquei
encafifado com uma afirmação de que os dias parecem passar mais rápidos pois
estamos nos tornando velhos. Quem disse
isso foi um filósofo francês chamado Paul Janet em 1897, fazendo um cálculo
lógico: “cada ano de nossas vidas representa um pedaço menor do todo. Se um ano representa 20% da nossa existência
aos 5 anos, essa proporção cai para 2% quando chegamos aos 50”. E que no avançar das décadas, o ciclo de 1
ano, ia se tornando cada vez mais curto.
Apesar de ser meio polêmico – no próprio
artigo também há menções que é possível passarmos por momentos mais “demorados”
na velhice – concordei com os desdobramentos desta pesquisa: essa “rapidez” está intrinsecamente
relacionada com a nossa memória. E que a
rotina é uma das grandes vilãs neste sentimento de que o tempo está escasso.
No artigo havia vários desafios
para fazer-nos lembrar de shows emocionantes, a última vez que fizemos uma
viagem incrível ou até mesmo quando foi a última vez que você resolveu acampar
no meio do mato. Na verdade, tudo que
foge da rotina ou que gerou prazer, mesmo que tenha acontecido há anos atrás,
ainda pode ser relembrado com riqueza de detalhes. E esses detalhes vão se diferenciar quando
embaralharmos na nossa memória comum, um dia modorrento ou estressante do
trabalho. Os dias “normais” são
condensados em uma única memória. Por
isso todos os dias parecem iguais, sem muita relevância emocional.
E, conforme o artigo avançava,
mais eu concordava com o que os pesquisadores revelavam. “Na juventude e adolescência, estamos cheios
de primeiras vezes – o primeiro dia na escola, a primeira vez que dormimos fora
de casa, a primeira viagem sem os pais, o primeiro beijo, a primeira transa, o
primeiro emprego, o primeiro bebê... e quando ficamos velhos, os acontecimentos
se tornam repetitivos, pois se torna parte da rotina e produz menos memórias”.
Reparem que quando viajamos para
um local super bacana conseguimos fazer centenas de coisas ao mesmo tempo? E aí quando voltamos para nossa rotina e
relembramos de nossas viagens nos surpreendemos que o tempo parecia muito mais
longo?
Pois é. Esse é o segredo. Para alongar o nosso tempo, precisamos criar
o maior número possível de memórias, para que elas se destaquem das demais. “Quanto mais os dias se sobressaem, mais
longos eles vão parecer em retrospectiva”.
Por isso, viva cada minuto intensamente
para que ele pareça infinito.
Abra a janela.
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A opinião dos colunistas não representa necessariamente a posição editorial do Barba Feita, sendo estes livres para se expressarem de acordo com suas ideologias e opiniões.
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