Não me lembro direito da primeira vez que conheci a Raissa. Acredito que tenha sido em um dos eventos ocorridos enquanto eu trabalhava no hospital. Na época, Raissa tinha acabado de descobrir uma doença grave, que poderia ter abreviado sua passagem: leucemia linfoide aguda. Foi quando se internou e iniciou um tratamento severo, que se transformou em um dos momentos mais difíceis de sua vida, a afastando de tudo que ela mais gostava: da faculdade que tinha acabado de entrar, dos amigos e de coisas simples como simplesmente beber um copo de água. Vieram as complicações, a queda dos longos cabelos devido ao efeito da quimioterapia e a distância entre as horas.
Tento me recordar do primeiro encontro sempre. Mas só consigo me lembrar de que todos os dias, antes de eu ir embora para casa, subia até sua ala de internação e passava para dar um “oi”. Muitas vezes a encontrava desacordada sob os fortes efeitos dos medicamentos e a fitava pelo vidro da enfermaria, mentalizando um abraço. Juro que muitas vezes percebia um sorriso. Outras vezes, mesmo grogue, fazia questão de puxar papo sem falar “coisa com coisa”. Mas, na maioria das vezes, os momentos que permanecíamos juntos eram verdadeiras festas regadas a super gargalhadas que precisávamos conter para não incomodar os outros pacientes. Imaginávamos um título de um futuro livro para os nossos “causos”: Risadas à Beira do Leito, entre fios, seringas e máscaras de oxigênio. Isso deve ter sido há mais de dez anos.