Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua quimera
Somente a Ingratidão – esta pantera
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija!
(Versos Íntimos)
Sintetizado em decassílabos e rimas regulares ao estilo francês, este soneto foi escrito em 1901 pelo poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914), quando o mundo vivia um período turbulento. O pessimismo extremo era refletido nas artes e, em especial na literatura, com o início do movimento romântico do mal-do-século capitaneado pelo inglês Lord Byron, com as lamúrias, tédio, infelicidade, desgosto e melancolia presente nas obras.
No Brasil, o movimento teve outro contexto, com contornos trágicos, quando os artistas encontravam na depressão profunda e na morte as soluções para seus problemas existenciais. Os artistas da época se enxergavam como desajustados, devido ao constante conflito social que enfrentavam. O isolamento os faziam cair no sofrimento, inclusive resultando em males físicos, como a tuberculose, que acabou levando os dois maiores ícones do movimento no Brasil: Casimiro de Abreu, aos 21 anos, e Álvares de Azevedo, aos 20. Mas, no caso de Augusto dos Anjos – que também morreu jovem (aos 30 anos), de pneumonia – sua obra já antevia o que viria ser o grande mal-do-século 21: a hipocrisia e a intolerância.
No Brasil, o movimento teve outro contexto, com contornos trágicos, quando os artistas encontravam na depressão profunda e na morte as soluções para seus problemas existenciais. Os artistas da época se enxergavam como desajustados, devido ao constante conflito social que enfrentavam. O isolamento os faziam cair no sofrimento, inclusive resultando em males físicos, como a tuberculose, que acabou levando os dois maiores ícones do movimento no Brasil: Casimiro de Abreu, aos 21 anos, e Álvares de Azevedo, aos 20. Mas, no caso de Augusto dos Anjos – que também morreu jovem (aos 30 anos), de pneumonia – sua obra já antevia o que viria ser o grande mal-do-século 21: a hipocrisia e a intolerância.